São Paulo – A indústria nacional de implementos rodoviários mais uma vez sofre com a escassez de pneus no mercado interno. Segundo executivos do setor ouvidos pela Agência AutoData as fornecedoras locais não têm conseguido atender à demanda e acompanhar a retomada do mercado, que cresceu 57% no primeiro quadrimestre, comparado com os quatro primeiros meses do ano passado, e registrou 46,8 mil emplacamentos. Por isso as empresas fabricantes de implementos foram atrás de pneus no Exterior, com a perspectiva de que a produção local só será equalizada no ano que vem.
Colabora com a decisão o fato de que os pneus de carga estão com a alíquota de importação temporariamente zerada, o que permite preços de produtos importados semelhantes aos produzidos no País. Na emergência alguns fabricantes, como a Truckvan, foram comprar pneus de distribuidores, com o custo duplicado.
“Nosso primeiro lote de pneus importados da China chegará em junho, cerca de 1,5 mil unidades”, disse o gerente comercial Felipe Almeida. “Como esse volume deverá durar pouco mais de dois meses já estudamos a importação de um segundo lote, de 3 mil unidades, no segundo semestre”.
A Rodofort também não conseguiu comprar pneus nacionais, mas optou por buscar pneus em outro mercado, a Índia, de onde já recebeu o primeiro lote para equipar implementos que estavam parados. Uma nova entrega está prevista para julho, de acordo com Alves Pereira, diretor geral da empresa:
"Receberemos cerca de 1,5 mil pneus no começo do segundo semestre. Nesse momento de escassez é preciso conhecer o mercado externo e buscar alternativas. No ano passado nós tentamos importar pneus, mas a alíquota para os de carga não tinha sido zerada e isso impossibilitou o avanço da negociação".
No caso da Librelato as importações ainda não começaram, mas é um tema discutido internamente, de acordo com José Carlos Spricigo, seu CEO: "A situação está complicada e também nos afeta, então o mercado externo é uma opção. Mas existem muitos custos, como frete e contêineres, que precisam ser bem avaliados. E ainda existe o prazo de cerca de noventa dias até recebermos os pneus. Trata-se de operação delicada".
Spricigo também responde pela presidência da Anfir, entidade que representa as fabricantes nacionais de implementos, e reconhece que a pandemia causou uma inconstância na programação de pedidos e entregas, gerando atrasos e fazendo com que a empresas olhassem para o mercado internacional – uma solução que não é simples diante de todos os custos que envolvem a operação.
Do lado das fabricantes de pneus, representadas no Brasil pela Anip, a informação é a de que não há falta de capacidade produtiva e de pneus no mercado, até porque as vendas estão abaixo dos picos registrados no fim de 2020, mesmo com as dificuldades impostas pela pandemia na produção e no acesso à matéria-prima. O que aconteceu, afinal, segundo o presidente executivo Klaus Curt Müller, foi "um efeito chicote” que refletiu nos pedidos".
"Com a forte retomada após a chegada da pandemia houve um descompasso na programação de pedidos de algumas empresas do setor de implementos, que em alguns casos aumentaram seus volumes em um período curto de tempo, dificultando as entregas. Acredito que essa situação será normalizada quando o ritmo de pedidos voltar a ser como sempre foi nessa indústria, com longos prazos programados".
O executivo também revelou que Anip e Anfir negociam para resolver essa situação e que, nos próximos dias, haverá reunião para discutir o assunto e possíveis soluções.
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