Apesar dos desafios deste ano, companhia mantém investimentos e localização
São Paulo – A Bosch faturou R$ 9,2 bilhões na América Latina ao longo do ano passado, cifra 35% superior à receita de 2020. Desse montante, 73% foram provenientes da operação brasileira, o equivalente a R$ 6,9 bilhões, sendo que um quarto das vendas se deveu a exportações para países do continente e também da Europa.
Os resultados foram apresentados à imprensa por Gastón Diaz Perez, presidente da Robert Bosch América Latina, na quinta-feira, 12. Sobre o expressivo desempenho do grupo que abrange dez países latinos em que está presente Perez justificou que não se trata de recuperação de perdas advindas da crise pandêmica, pois em 2020, auge da covid, a Bosch registrou incremento de 7% em comparação a 2019:
“Estamos 42% acima do nível pré-pandemia. É um crescimento real, e não simplesmente rebote. E muito disso se deve à maior competitividade, temos ganhado novos mercados com exportações. E por outro lado, apesar de o mercado local de carros não crescer, e até cair, temos apostado em novas tecnologias e produtos, com mais valor agregado, o que também incrementa nosso faturamento. Adicionalmente, entramos no sistema de redução de custos, mas não demitimos nem tivemos linhas paradas. Estávamos prontos quando o mercado voltou a reagir e a demandar produtos em níveis acima do pré-pandemia. Tínhamos estoque e investimentos prontos, então ganhamos fatia de mercado”.
Gastón Diaz Perez
Quanto à perspectiva para 2022, o executivo disse que já revisou duas ou três vezes a previsão este ano devido ao alto nível de incertezas trazidas pela crise dos semicondutores, pela guerra na Ucrânia e pelo lockdown na China por causa da nova onda de covid.
Embora não tenha aberto sua projeção, disse que está um pouco menor do que no início do ano e que segue otimista, mas que o crescimento não deverá ser explosivo como nos anos anteriores e sim moderado. Em entrevista à AutoData em 2021 o ex-presidente Besaliel Botelho havia estimado incremento na casa dos dois dígitos.
“O mundo está começando a se parecer com a América Latina. Nós estamos acostumados com essa visão de curto prazo e da dificuldade de prever o futuro. O que para nós é vantagem, pois sabemos como nos movimentar neste ambiente. Mas para o resto do mundo é mais difícil.”
Do montante faturado no ano passado, 62% correspondem ao desempenho da companhia na área da mobilidade, ou R$ 5,4 bilhões, sendo a maior parte proveniente do Brasil. O segmento cresceu 34% em relação ao ano anterior em todas as divisões, tanto para os negócios com montadoras como para o mercado de reposição, o que inclui soluções de powertrain, segurança veicular, motores elétricos e eletrônicos e direção para pesados.
Perez defendeu a eficácia e o potencial de soluções como os biocombustíveis e o etanol e disse que ainda há muito a fazer para ampliar seu alcance: “Isso não vai desbancar a eletrificação, mas pode ser uma excelente tecnologia complementar para países com características similares ao Brasil na América do Sul, além de Índia, África e parcialmente nos Estados Unidos”.
Perez disse que globalmente a companhia possui pedidos de € 10 bilhões em produtos de powertrain. E citou que no Brasil isso ainda é limitado, embora a companhia detenha tecnologias inclusive para desenvolver células de hidrogênio. “Por causa do etanol e por questões de infraestrutura eu acho que não será tão rápida a introdução do carro elétrico, e sim gradual, não acredito que seja tão forte como na Europa, onde até 2030 deverá ser tudo elétrico.”
Investimentos –– A área de tecnologia industrial faturou R$ 786 milhões em 2021, o que representou 9% da receita. A divisão Rexroth, que possui unidades em Itatiba, SP, e Pomerode, SC, cresceu 41% ante 2020. Tanto que são previstos investimentos de R$ 76 milhões este ano para ampliar a capacidade produtiva, localização de produtos novos no Brasil e aumento em sustentabilidade, segurança e qualidade.
“Também estamos investindo forte nas unidades de Curitiba, PR, e Campinas, SP, para o setor da mobilidade, trazendo produtos que não são fabricados localmente para abastecer nossos clientes locais e exportar”, disse o presidente, sem abrir os valores.
Nos dois últimos anos o segmento de ferramentas elétricas também cresceu bastante, quase dobrou, e em 2021 a Bosch passou a fabricar esmerilhadeira e parafusadeira a bateria em Campinas, segundo ele “o segmento mais dinâmico do mercado”.
Em relação à nacionalização, Perez assinalou que o índice gira em torno de 50% e que o plano é ampliar em torno de 2% ao ano. De acordo com o executivo, essa questão está menos ligada à cotação do dólar, na casa dos R$ 5, e mais com a competitividade:
“Esse caminho vai continuar em praticamente todas as divisões porque hoje somos competitivos como não éramos anos atrás. Na indústria automotiva não se traz tudo de um ano para outro, demora um pouco. Mas em Curitiba vamos continuar trazendo linhas para a parte de injeção e em outras unidades. Estrategicamente, essa mudança tecnológica para a eletrificação abre para nós a possibilidade continuar sendo crescente na América Latina, não só para abastecer nosso mercado como para exportar”.
Gastón Diaz Perez
Ele citou ainda que a companhia possui programa de indústria 4.0 para seus fornecedores, a fim de compartilhar conhecimento com a cadeia para prepara-las melhor para a localização.
Em 2021 a companhia investiu R$ 806 milhões em P&D e digitalização e bens de capital em sua operação na América Latina.
Expansão – Quanto aos planos de novos negócios, o executivo elencou o desenvolvimento de soluções de tecnologia no agronegócio, com plantadeiras inteligentes, por exemplo, e na mineração. “Estamos desenvolvendo centros de competência globais e, para o mercado agro, estamos conversando para coloca-lo no Brasil.”
Também faz parte expandir a área digital, com gerenciamento e manutenção de frotas, assim como o monitoramento de ferramentais e indústria 4.0.
“A produção de semicondutores é algo muito específico e que requer grandes investimentos. Temos alguma parte da Bosch dedicada a isso, mas hoje não temos planos de iniciar produção no Brasil. Hoje fabricamos ECUs para caminhões elétricos, que trabalham com essa matéria-prima. Os carros estão se tornando cada vez mais um aparelho eletrônico do que mecânico. Vemos com muitos bons olhos a iniciativa do governo de estimular a produção local”, disse, referindo-se à elaboração do Plano Nacional de Semicondutores, cuja expectativa é que saia do papel em até três meses. Para ele, 2022 ainda apresentará dificuldades no fornecimento de chips e espera que em 2023 comece a normalizar o abastecimento.
A operação latina corresponde a 3% do faturamento global, que registrou € 78,7 bilhões em 2021, alta de 10%.