A Renault desenvolve trabalho social em parceria com ONGs que operam no bairro vizinho da fábrica, Borda do Campo, em que vivem 18 mil pessoas, sendo 74% em situação de pobreza
São José dos Pinhais – Há ações de formação profissional e inserção de jovens no mercado de trabalho, em que a presença de mulheres vem crescendo ano a ano. Desde 2010 quase 870 mil pessoas receberam algum tipo de impacto das ações de responsabilidade socioambiental.
Uma das maiores parceiras da Renault neste quesito, a Associação Borda Viva, é dirigida por Rosali Oliveira Santos, 53 anos, ou simplesmente Rose. Mulher de fibra e de fé transformou a entidade ao longo dos dezoito anos que está à frente dela.
“Minha missão é devolver a dignidade, ou concedê-la, pela primeira vez, às mulheres”, ela disse. “Não gosto do assistencialismo por si só, então me inspirei em minha própria história para ajudar mulheres a transformarem suas vidas. Quando dependia de cesta básica, ainda no papel de mãe assistida, em 2002, eu pensava: não quero ganhar, quero poder comprar, escolher o que desejo.”
Ela diz que a associação já trouxe alguma transformação à vida de 100 mil pessoas. Vinte e duas, hoje, trabalham diretamente no local. Mesmo quando realiza coleta de roupas para doação Rose não as entrega, simplesmente: organiza um bazar simbólico para que as famílias optem pelo que querem vestir: “Dar a possibilidade de escolha às pessoas muda tudo”.
Rose perdeu um filho para a violência local há treze anos, o que, de acordo com ela, a tornou mais forte: “Fiz da minha dor o que sou hoje. E não desejo para os outros o que não quero para mim. É preciso, portanto, ajudar a transformar. Juntos, chegamos mais longe”.
Líder nata Rose, que exala criatividade e para quem não existe tempo ruim, ergueu as mangas para desenvolver atividades que, atualmente, quase sustentam a ONG com as próprias pernas. De 2015 a 2022 o faturamento da organização cresceu mais de treze vezes, de R$ 90 mil para R$ 1,3 milhão. Graças à parceria com a Renault a prestação de contas é profissionalizada, o que abre as portas para expandir ainda mais sua atuação: “Nossa meta é faturar R$ 2 milhões em 2023”.
As duas principais atividades da organização são a Cozinha Escola e a Casa da Costura. A primeira produz alimentos para doar à comunidade e os serve em restaurante por quilo cuja renda é revertida às ações. Funcionários de empresas no entorno costumam frequentá-lo na hora do almoço – são servidas cerca de cem refeições por dia – e as doações, antes feitas no local, após a pandemia seguem como marmitas, 168 diárias.
“Só atendemos famílias com crianças de até 12 anos mas, com a covid, muitas perderam emprego e renda. Então a marmita é uma solução para que levem para casa e compartilhem a comida.”
A segunda atividade da ONG, de costura, utiliza retalhos e sobras de bancos, cintos de segurança, uniformes e outros materiais durante a fabricação de veículos. O material é doado tanto pela montadora como por fornecedores.
Concessionárias, a exemplo da Women@RPoint, em São Paulo, a primeira a contar com equipe 100% composta por mulheres, expõem os produtos confeccionados. E loja localizada na avenida Champs-Élysées, em Paris, França, comercializa os produtos made in Borda do Campo com preços bem maiores. Por exemplo: uma bolsa que aqui é vendida por R$ 150 lá custa acima de € 200, ou R$ 1,1 mil, ou quase oito vezes mais.
O negócio da costura deu tão certo que a ONG passou a fornecer para a própria Renault. Um dos itens, por exemplo, são capas para proteger os veículos, como a do SUV completamente novo que será lançado ainda este ano e que, por ora, tem suas informações sob sigilo absoluto – sigilo compartilhado com Rose.
As costureiras, muitas delas anteriormente donas de casa e vítimas de violência doméstica, também têm produzido uniformes para concessionárias até de empresas concorrentes. Assim como kits necessaires para a indústria perfumista da região. O próximo passo pleiteado por Rose, e que já está sendo alinhavado, é ser a responsável pelos uniformes da Renault.