São Paulo – Se por um lado o motor a diesel seguirá protagonista até ao menos o fim da década, concentrando a produção local e dando condições às subsidiárias brasileiras das fabricantes plataformas de exportação, por outro os departamentos de pesquisa e desenvolvimento vêm trabalhando a pleno vapor para criar soluções mais econômicas e menos poluentes, principalmente para o transporte de cargas. Ao pensar em uma opção de transição energética que caiba no bolso dos frotistas a FPT Industrial se debruçou na proposta de substituir o motor a diesel de um veículo comercial por outro a gás sem alterar o desempenho, apenas as suas emissões.
Amauri Parizoto, diretor comercial da FPT Industrial para a América Latina, contou à Agência AutoData que a empresa está testando esta adaptação, que altera também o escapamento, em veículos de uma transportadora paulista, cujo nome manteve em sigilo. Os resultados serão avaliados no primeiro trimestre, quando os experimentos completarão cerca de um ano.
“A FPT faz a troca de um motor a diesel, Euro 5, por um a gás, equivalente a Euro 6. E usamos tecnologia estequiométrica que faz com que o motor a gás tenha o mesmo torque e potência de um veículo a diesel. Ou seja: o motorista não sentirá a diferença.”
A autonomia, disse, será determinada pela quantidade de cilindros instalados: “Por exemplo: um caminhão médio que utiliza nosso motor 6.7 cilindros terá autonomia aproximada de 350 quilômetros”.
E se a empresa que adotar esta adaptação tiver acesso ao biometano o custo cai significativamente, de R$ 6, em média, considerando o preço do diesel, para menos de R$ 1: “Temos dez empresas com frotas significativas interessadas neste processo de troca. Isto porque há muitos veículos que são de propriedade do dono da usina que fabrica o biometano”.
Parizoto mencionou projeto em andamento capitaneado pela Necta, distribuidora de gás natural, que deverá facilitar o acesso de frotistas ao biometano em rota verde que ligará o Interior de São Paulo, passando por Ribeirão Preto, até o Estado de Mato Grosso, fazendo a ligação de todos os fabricantes da região com os revendedores: “Este ano as primeiras ligações subterrâneas das usinas com postos começarão a ser feitas”.
Além de assegurar o fornecimento de biometano a iniciativa busca por em prática tecnologia que tornará o ritmo de abastecimento mais rápido que o de gás natural, que dura em torno de meia hora. Nesta proposta, conforme o executivo, o tempo cairia três vezes.
Solução custa um terço do preço de caminhão novo
Batizada de Repower FPT a solução foi apresentada na Fenatran 2024, realizada em novembro, no São Paulo Expo. Segundo o diretor comercial a adaptação custa de R$ 230 mil a R$ 250 mil – em torno de um terço do custo de um caminhão 0 KM, se tomarmos como base um modelo extrapesado.
“Se este caminhão está dentro de uma usina que fabrica biometano o investimento é recuperado em até dois anos, no máximo. Diante disto não há o que pensar: é fazer.”
Parizoto afirmou que atualmente, no Brasil e na Argentina, há seis caminhões rodando em testes com o motor a gás.