Nesta segunda-feira, 20, dediquei uma boa parte do dia e da noite para acompanhar a cerimônia de posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos. Foi um evento marcante, carregado de pompa e circunstância, tão característico do estilo americano de ser. E agora, ao relembrar o que vi e ouvi, fico dividido pelo impulso de rir da surrealidade da ocasião ou se tenho receio do futuro.
Trump é uma figura que desafia qualquer tentativa de previsão ou entendimento convencional. Suas declarações improvisadas, recheadas pelas bravatas, são uma surpresa atrás da outra. Ele parece acreditar piamente que os Estados Unidos — ou America, como insiste em chamá-los — são o centro do universo. E isso transparece no menosprezo com que trata o resto do mundo.
Durante seu discurso de posse Trump fez afirmações alarmantes e, muitas vezes, acredito, quase que desconectadas da realidade. Dos pontos mais controversos anunciou a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris, como se o país não tivesse nenhuma responsabilidade com o futuro ambiental do planeta. E isto quando o próprio território estadunidense enfrentava extremos climáticos — uma onda de frio histórica em Washington durante a cerimônia de posse e incêndios devastadores em Los Angeles.
Ele também declarou o fim da política de diversidade, ameaçou retomar o Canal do Panamá à força e prometeu deportar todos os imigrantes do Sul para o México. E em um gesto quase cômico afirmou que mudaria o nome do Golfo do México para Golfo da América. A sensação que ficou é que realmente acredita que a tal America é o umbigo do mundo.
Trump foi ainda mais longe em suas declarações ao afirmar que a América Latina precisa mais dos Estados Unidos do que o inverso. E mostrou um, digamos, conhecimento peculiar de geopolítica ao dizer que a Espanha fazia parte dos BRICS — um grupo que, como sabemos, é composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, dentre outros países. Mas a Espanha não.
Para completar, ele afirmou que o recente acordo de Israel com o Hamas estava ocorrendo porque eles sabiam de sua chegada ao poder. E, num gesto de estilo quase romano, ameaçou criar uma taxa para países que queiram fazer negócios com os Estados Unidos.
A cereja do bolo foi o comportamento de um de seus aliados, o sul-africano Elon Musk, que em determinado momento parece ter feito gestos ligados à supremacia branca, inflamando ainda mais o público já em delírio.
Diante deste cenário o que esperar? É difícil dizer. Acredito, porém, que é essencial mantermos o foco em nossa própria agenda de desenvolvimento e de sustentabilidade. O futuro está na proteção do planeta e no compromisso com soluções ambientais. É nesta direção que reside a nossa verdadeira possibilidade de avanço.
A posse de Trump reforça a importância de discutirmos não apenas a política internacional mas, também, o papel que queremos desempenhar como nação. Não podemos nos abalar pelas bravatas de um líder que parece mais preocupado em consolidar sua própria narrativa do que em construir um futuro coletivo.
É hora de redobrarmos nossos esforços para proteger o meio ambiente, diversificar nossas relações internacionais e buscar caminhos sustentáveis de crescimento. Afinal o futuro é nosso para construir — e não podemos nos dar ao luxo de esperar que outros o façam por nós.