São Paulo – Em 31 de outubro, dias antes de assinar formalmente a nova parceria com a Changan, a Caoa produziu em Anápolis, GO, o último caminhão Hyundai HR. Encerrava, assim, uma das mais longas e frutíferas parcerias da indústria automotiva nacional, pois a fábrica goiana não mais produzirá modelos Hyundai e se prepara para uma nova etapa, compartilhando em suas linhas veículos Chery e Changan, as duas parceiras chinesas da Caoa.
A união do empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade com os sul-coreanos da Hyundai foi iniciada em 1999, com a importação exclusiva de automóveis no mercado brasileiro, a estruturação da rede e grandes investimentos em marketing. O SUV Tucson, que invadiu as ruas brasileiras, é o grande símbolo desta primeira etapa, que a partir de 2007 foi sucedida por produção local do modelo em Anápolis, que nos anos seguintes também produziu o minicaminhão HR, o médio HD, e os SUVs ix35 e New Tucson.
A entrada oficial da Hyundai no Brasil como fabricante, em 2012 com a inauguração da fábrica de Piracicaba, SP, gerou uma disputa judicial pela representação da marca no Brasil, pois a montadora coreana queria administrar a operação de importações, que foi mantida com a Caoa por mais de uma década à frente. Alegações de descumprimento de contrato foram levadas à Corte Internacional em Paris, França, e a empresa de Oliveira Andrade saiu vencedora.
Após o falecimento do fundador da Caoa, em 2021, no ano passado as duas empresas assinaram um novo contrato, no qual a Caoa abriu mão da representação exclusiva das importações de modelos Hyundai e ofereceu sua fábrica para a produção de novos veículos, algo que não foi adiante. A relação da Caoa com a Hyundai hoje está limitada à representação comercial: o grupo segue sendo o maior concessionário da marca no País com cerca de quarenta revendas, nas quais são vendidos carros nacionais e importados da marca.
Busca por nova parceira começou com o fundador
Durante a disputa judicial com a Hyundai, ainda que mantendo e expandindo a operação com a chinesa Chery, uma joint-venture firmada em 2017 com metade do capital para cada empresa, Oliveira Andrade foi em busca de novas parceiras. Segundo contou à AutoData Carlos Philippe, seu filho e um dos atuais presidentes da Caoa, ao lado de seu irmão Carlos Alberto Oliveira Andrade Filho, as conversas com a Changan começaram em 2019 e só não avançaram mais rápido por causa da pandemia.
Ele garantiu não haver conflito com a Chery, como não houve com Chery e Hyundai no passado: as duas marcas serão produzidas em Anápolis, que recebe investimentos de R$ 3 bilhões para, dentre outras coisas, ter sua capacidade produtiva dobrada de 80 mil para 160 mil veículos por ano. Maquinário da antiga Ford, de Camaçari, BA, foi comprado para a ampliação, que envolve também a construção de novas áreas de produção.
Com o fim da produção da Hyundai abre-se espaço para a introdução de modelos Changan, além da expansão da linha Chery. “Não há conflito das duas marcas: estamos ampliando e há espaço para produzir ambas em Anápolis.”
E embora tenha apresentado em seu estande no Salão do Automóvel somente modelos Avatr, uma das marcas da montadora na China, chegarão outros, inclusive da marca Caoa Changan. Os pormenores de rede, produção e investimento serão divulgados no primeiro trimestre, segundo Carlos Philippe.
É o mesmo prazo previsto para o fim das obras em Anápolis: uma fonte confirmou à reportagem que, em março, inicia uma nova etapa na fábrica goiana. Sem Hyundai e com Changan.