A volta do carro popular: não se fala de outra coisa no mundo do desenvolvimento, da produção e da venda de veículos de passeio, e existe uma excitação forte pelos anúncios prometidos para o evento de 25 de maio na Fiesp. Que carro será este?: peladinho ou nem tanto, terá buzina e controle elétricos dos retrovisores? Suas rodas e para-choques estarão pintados de preto? Qual será a mágica do carro de R$ 60 mil?
São estas questões objetivas que dividem conversas e discussões, e elas fazem sentido. Mas muito poucos se recordam de lição proferida por antigo líder representante das empresas concessionárias: “Responsáveis pelos produtos, inclusive qualidade, e por seus preços são as montadoras”. As mesmas montadoras que, rachadas no âmbito de sua entidade, a Anfavea, têm sinal verde para tratar diretamente do assunto carro popular com o governo. As mesmas que concedem descontos de, dizem, até 32% nas suas vendas diretas às empresas locadoras de veículos.
Vendidos já há anos com grande generosidade de descontos, são estes os carros que totalizam de 40% a 45% de todos os emplacamentos no País há anos. Com cerca de seis meses de uso caem no melhor mercado de vendas hoje em dia, o de veículos seminovos.
E o que define o preço final de um veículo, afinal?: a estrutura de custos mais a margens de lucro ou o mercado sem face? Há muito tempo ouço dizer que a indústria força preços ao mercado, e este é um daqueles instantes em que esta forma de vender torna-se obsoleta, até porque os preços dos carros produzidos aqui não são nada populares. Os do Chevrolet Onix, por exemplo, foram majorados em quase 100% nos últimos três anos. E não haverá preços populares com a taxa de juros em vigor: quem comprar um dito carro popular de, digamos, R$ 60 mil, com 20% de entrada mais 72 prestações, estará pagando quase três carros em seis anos.
Isto significa que é preciso combinar alguma tática avançada com os bancos para que os tais populares venham a ter alguma razão de ser. E não apenas por causa das taxas dos financiamentos pois bancos também estão anexando o risco da inadimplência às taxas que exercem.
No passado do carro popular todos os atores desta peça cheia de patranhas entraram com alguma colaboração: foram cortados impostos e muitas margens de lucro em toda a cadeia produtiva. Desta vez tudo se apresenta muito mais enxuto e é maior a dificuldade de encontrar gorduras disponíveis. Mais: as montadoras, acredito, não têm nenhum interesse em impostos menores à medida que são elas que recolhem ICMS, PIS Cofins e IPI sobre aquelas vendas diretas que realizam – aqueles de 40% a 45% do mercado – e os entregam à Receita depois de algum tempo de usofruto. No caso este usofruto significa poder trabalhar com dinheiro do governo por algum período antes de restituí-lo à Receita sem juros: trata-se de agradável e legal apropriação de grana pública.