Buenos Aires, Argentina – “Vocês declara, sob juramento, que nos últimos catorze dias não esteve na cidade de Wuhan e que não teve contato com ninguém da província de Hubei?”. Era terça-feira, 11 de fevereiro de 2020, e foi a primeira vez que ouvi falar daquele lugar na China. O noticiário comentava sobre o novo coronavírus, mas me parecia algo exótico e distante. Especialmente porque a perguntava estava sendo feita na portaria da fábrica do Grupo PSA em El Palomar, Argentina, a 19 mil quilômetros de Wuhan.
Buenos Aires, Argentina – “Você declara, sob juramento, que nos últimos catorze dias não esteve na cidade de Wuhan e que não teve contato com ninguém da província de Hubei?”.
Era terça-feira, 11 de fevereiro de 2020, e foi a primeira vez que ouvi falar daquele lugar na China. O noticiário comentava sobre o novo coronavírus, mas me parecia algo exótico e distante. Especialmente porque a pergunta estava sendo feita na portaria da fábrica do Grupo PSA em El Palomar, Argentina, a 19 mil quilômetros de Wuhan.
Eles me explicaram que a declaração era uma medida preventiva, adotada em todas as fábricas da Peugeot, Citroën e DS no mundo. De fato as fábricas que o grupo francês mantém na província de Hubei já estavam fechadas e em quarentena por causa deste vírus.
Rapidamente me esqueci do tema. Quem se importava com um vírus chinês do outro lado do planeta? Eram oito horas da manhã, era verão, as máscaras eram usadas apenas em salas de cirurgia e eu estava lá para ver o novo Peugeot 208 fabricado na Argentina.
Em fevereiro o Grupo PSA reuniu um grupo de jornalistas, na Argentina, para passar informações sobre o desenvolvimento, ajuste e fabricação do novo 208, da segunda geração. Eu estava lá representando o Autoblog. As informações foram mantidas sob um acordo de confidencialidade até hoje, segunda-feira, 22 de junho.
O lançamento comercial do novo 208, planejado para agosto, é o resultado do chamado Projeto P21, que incluiu a instalação da Plataforma CMP na Argentina, com investimento de US$ 320 milhões.
O valor foi usado para modernizar todos os processos industriais da fábrica: desde a criação de um novo centro de capacitação para operadores até a melhoria dos processos de estampagem das carrocerias, soldas com tecnologia a laser, linha de pintura, linha de montagem e controle de qualidade para todos os dispositivos de segurança que o 208 oferecerá.
Será o primeiro veículo fabricado em El Palomar a ter frenagem autônoma de emergência, controle adaptativo de cruzeiro e alerta de risco de colisão frontal. Também terá, de série, controle de tração e estabilidade, algo que o 208 brasileiro só oferecia na versão GT.
O novo 208 de segunda geração substituirá o 208 da primeira geração, que já deixou de ser produzido no Brasil. Em uma primeira etapa será oferecido apenas com motor a gasolina EC5 1.6 16 válvulas, com a opção de transmissão manual de cinco velocidades ou Tiptronic automático de seis velocidades. No segundo estágio, e dependerá da demanda do mercado, poderá ser acrescentada uma variável 1.2 turbo 12v de produção nacional. Além disso a linha poderá ser completada com versões importadas da Europa, como turbodiesel, 100% elétricas e até uma esportiva GTi.
Até segunda ordem o novíssimo 208 conviverá na fábrica argentina com alguns dos modelos mais veteranos do mercado: Peugeot Partner, Citroën Berlingo, Peugeot 308 e 408 e Citroën C4 Lounge. Não substituirá nenhum deles na linha de produção. Todos compartilharão a linha do novo 208 de segunda geração – até então o Partner e Berlingo eram fabricados em um setor separado.
A visita em fevereiro começou com um café da manhã e uma apresentação técnica da plataforma CMP – veja o vídeo.
O termo Plataforma Comum e Modular é definido da seguinte maneira:
* Plataforma: é a base estrutural do veículo, também definida como “o piso” do automóvel. É a arquitetura sobre a qual são distribuídos os diferentes componentes. O design da CMP foi pensado para funcionar com diferentes motorizações: gasolina, diesel, híbridas e 100% elétricas. Sua fabricação é feita com materiais leves, para reduzir o peso e o consumo, mas também muito resistente, para obter melhores resultados em testes de colisão.
* Comum: é uma plataforma que todas as marcas do Grupo PSA – Peugeot, Citroën, DS, Opel e Vauxhall – já estão usando e que o Grupo FCA também poderá aproveitar, à medida que a aliança avançar. O primeiro modelo a chegar na Argentina sobre a plataforma CMP foi o DS3 Crossback, importado da França. O novo 208 argentino é o segundo. Mais modelos CMP chegarão em 2021, como uma nova geração de produtos Citroën fabricados no Brasil. Também é chamado de comum e global porque produz veículos na Europa, Ásia, África e, agora, também na América do Sul.
*Modular: Não é uma estrutura rígida e nem sempre é a mesma em todos os modelos. A plataforma CMP pode ter dois tipos de largura, que variam até 20mm, três distâncias entreeixos, com até 50mm de diferença, quatro tipos de carroceria, hatchback, sedã, SUV e utilitário, e tem capacidade de trabalhar com diferentes diâmetros de rodas. Isso propicia maior liberdade de estilo, para oferecer diferentes variantes de silhueta, que se adaptam à preferência de clientes de diferentes segmentos de mercados.
* Projeto P21: é o código interno para o novo Peugeot 208 argentino, fabricado sobre essa nova plataforma CMP. Participaram mais de 800 profissionais de design e desenvovimento, dos quais mais da metade são argentinos – os restantes estão na França e Brasil. Também colaboraram 2 mil profissionais de 65 fornecedores de peças da Argentina e Brasil. 75% das peças do novo 208 são fabricadas no Mercosul.
A fabrica do Grupo PSA em El Palomar aposta sua ficha mais valiosa neste Projeto P21. Nas duas últimas décadas a unidade correu o risco de ser fechada por mais de uma vez. Em 2019 foram produzidos apenas 8 mil veículos, mínimo histórico que foi inferior até ao da crise econômica de 2002, quando 18 mil automóveis foram produzidos.
O novo 208, Projeto P21, chega com a esperança de se converter em um sucesso comercial, alcançar boas exportações para o Brasil e colaborar para alcançar a capacidade máxima de produção de 140 mil automóveis em El Palomar.
Vai conseguir?
Tudo depende do produto. Será lançado em agosto, mas em novembro do ano passado nós, do Autoblog, tivemos a oportunidade de testar três unidades camufladas, em diferentes estágios de desenvolvimento.
E como rodam os protótipos do Projeto P21? A avaliação completa será publicada na sexta-feira, 6 de julho.