São Paulo — Passados cerca de cinco meses do início da crise instaurada pela pandemia da covid-19, o setor automotivo ainda busca dimensionar novos mercados e novas projeções. Ainda são poucos os que se arriscam a construir ponto de vista mais firme sobre a retomada, mas ganha força hipótese de que o nível anterior à pandemia será alcançado em até cinco anos.
O ponto de vista, sobre o qual a Anfavea já depositou suas fichas e até denominou Efeito Nike, foi também matéria de debate do webinar transmitido via internet pelo Sindipeças, que abordou o setor automotivo e o de autopeças no cenário pós-covid-19. Como disse Masao Ukon, sócio sênior do Boston Consulting Group, "mais importante do que cravar [o tempo] de retomada é saber que ela será lenta".
Uma vez considerada a probabilidade do cenário, seguiu o consultor, as empresas que formam a cadeia de suprimentos devem passar por intenso processo de reestruturação. Enquanto as montadoras, em uma ponta do negócio, já articulam redesenho do parque industrial, na outra ponta as autopeças tendem a se reinventar em busca da sobrevivência no mercado.
"A transformação pode se dar em duas frentes. A primeira no campo da gestão do negócio, que induzirá estas empresas a encontrar formas de antecipar volumes de produção e manter a escala das suas linhas, um contraponto à queda que vemos nas demandas. A outra frente é a dos canais digitais, que vieram para ficar."
O investimento em novos canais de vendas pelo menos já se tornou movimento popular no meio automotivo, tanto de parte das montadoras, que criaram páginas específicas para vendas de veículos, quanto no âmbito das fabricantes de componentes que também criaram seus marketplaces para vender peças e partes no segmento de reposição — medida, aliás, que representa resposta às perdas de volume no OEM.
Sobre a localização de componentes, possibilidade aventada por algumas fabricantes diante do quadro de dólar valorizado, o consultor adotou discurso de cautela. Isso porque, disse, ainda que a produção local possa parecer alívio às pressões do câmbio existem as barreiras estruturais que podem tormar a localização algo complexa:
"No curto prazo pode haver essa pressão [pela localização da produção] mas acho que há questões estruturais que precisam ser resolvidas, como escala, especialização da mão de obra, logística, fatores que precisam ser levados em consideração em uma decisão como essa".
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