São Paulo — As conversas mantidas por Ford e Abradif, a entidade que representa os interesses dos concessionários Ford, a respeito do redesenho da nova rede da empresa no País já apresentam os primeiros pontos discordantes. Para a Abradif é considerado crítico o fato de a empresa ter partido para negociações individuais com concessionários que julga serem os mais bem cotados para seguir na distribuição da nova oferta de seus veículos.
A reportagem da Agência AutoData teve acesso a carta enviada pela Abradif à Ford na sexta-feira, 22. Nela, questiona as razões que levaram a empresa a negociar diretamente com tais grupos concessionários, alegando que o procedimento passa longe da isonomia e, portanto, fere os interesses dos associados. A Abradif, ainda, citou judicialização do debate acerca das indenizações que a montadora deverá pagar aos seus concessionários.
Na terça-feira, 26, a Ford respondeu aos apontamentos da Abradif em carta à qual a reportagem tambem teve acesso. A Ford confirma, ali, as negociações individuais e informa que seguirá com o procedimento: "As negociações individuais já iniciadas dão o tom do comprometimento da Ford quanto à velocidade para a conclusão dos acordos e subsequentes pagamentos, minimizando eventuais impactos do período de transição para toda a rede".
Assinam o documento Luís Cláudio Casanova, diretor jurídico da Ford, Alexandre Alves Andrade Corrêia, gerente jurídico, e dois advogados do escritório TozziniFreire Advogados.
Segundo a Ford a Abradif teria, diante dos pontos divergentes, saído da mesa de negociação para iniciar um processo judicial, algo que considera um equívoco e que deveria ser matéria apenas para debate na esfera comercial: "Pareceu à Ford que a Abradif não está inclinada a apoiar um processo negocial. Essa resposta, portanto, vai sem nenhuma pretensão de exaurir os pontos aleatórios lançados, especialmente no tocante aos pleitos que, em sua maioria, não possuem o mínimo amparo legal".
O documento indica que a Ford já definiu os pontos de venda com os quais quer seguir a operar no mercado brasileiro com os veículos importados, com os quais mantém negociação individual. A empresa afirmou que selecionou as concessionárias e que lhes ofereceu "condições robustas para a entrada na nova fase". A escolha das lojas foi feita com base em estudos negociais, business cases, que consideram, dentre outras coisas, localização.
"Essa adequação passará pela extinção, por iniciativa da Ford, dos contratos de concessão comercial vigentes dos concessionários que, de acordo com os estudos de mercado individualizados, não teriam condições adequadas de continuidade", afirmou a Ford no texto. Estes estudos definiram, também, a escolha de questões econômicas que indicaram qual grupo concessonário teria musculatura financeira para continuar com a concessão comercial.
Negociando de forma individual a Ford teria, em tese, maior poder de barganha para discutir os pagamentos rescisórios segundo a Lei Renato Ferrari. De acordo com fonte do mercado, em off, a manobra pode gerar maior economia aos cofres da Ford, que contingenciou US$ 4,1 bilhões para arcar com os custos do encerramento da sua produção local de veículos: "Concessionárias devem às montadoras e a Ford deverá usar isso para reduzir os seus custos com as indenizações".
A Lei Renato Ferrari, que rege as relações no universo composto por fabricantes de veículos e suas redes de distribuição, estabelece que a empresa deve recomprar o estoque das concessionárias pelo preço de venda ao consumidor e também equipamentos, máquinas, ferramental e instalações destinados à concessão, excluídos os imóveis do concessionário. Estabelece, ainda, o pagamento por perdas e danos à razão de 4% do faturamento projetado para um período de 21 meses por quinquênio de vigência da concessão.
Procuradas Ford e Abradif informaram que não se manifestariam.
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