São Paulo – Para o presidente da General Motors para a América do Sul, Carlos Zarlenga, os preços de varejo dos veículos produzidos no Brasil continuarão a crescer neste ano, especialmente se o real prosseguir em movimento de desvalorização. Durante palestra no Seminário AutoData Megatendências 2021, evento on line iniciado na segunda-feira, 8, ele disse que “houve aumentos de preços no ano passado na faixa de 15% a 20% e isso continuará se o real prosseguir se desvalorizando. Hoje o câmbio está a R$ 5,70, e isso tem que ser repassado. A moeda compra menos: o carro é o mesmo mas em reais ele muda, perde valor”.
Para o executivo o quadro se deve ao fato de que “nossa indústria não pode mais ter falta de rentabilidade, temos excesso de capacidade e nem todos trabalhavam com a lista de preços pensando em rentabilidade. Vimos muitas perdas nos últimos anos, e temos que encontrar rentabilidade mesmo em meio à volatidade”.
A GMB, particularmente, de acordo com seu presidente, registrou “uma melhora muito importante nos resultados no último trimestre do ano passado e também no primeiro trimestre deste ano”.
Em sua apresentação Zarlenga demonstrou preocupação também com mudanças nos perfis de investimento da indústria automotiva no Brasil neste ano: “No ano passado, com a Covid-19, vimos a suspensão de investimentos previstos. Isso começou a retomar no fim do ano passado, começo deste ano, mas a suspensão foi muito significativa, pois levou a indústria a refletir. Os investimentos não voltaram do jeito que tinham sido anunciados. Para mim a suspensão dos aportes foi pela pandemia, mas a mudança não”, considerou, ainda que salientando que “não há uma visão única: algumas empresas continuaram com o planejamento mas outras não. Não foi um movimento uniforme, não voltou 100%”.
O presidente da GM complementou seu raciocínio afirmando que “em 2021 já vimos grandes mudanças, há menos participantes e menos produtos. Mudou bastante o caminho do investimento. Isso tem relação com as estratégias globais: as novas tecnologias, como eletrificação, carros autônomos etc. exigem muito investimento, e esses valores estão sendo transferidos do que seria aplicado nos motores a combustão. Ou seja: o foco principal do investimento mudou, e com isso, para os produtos de entrada, a combustão, como os 1.0, sobrou menos capital. E para esse volume menor de investimento ainda se requer certeza do retorno, porque ninguém sabe qual será a real rentabilidade das novas tecnologias, o risco é enorme. Para o que sobrar, então, nos modelos a combustão, precisa ser certeiro. E no geral o mercado da América do Sul tem muito risco, muita volatilidade”.
Uma das soluções para aliviar essa volatidade, afirmou, é “consertar os problemas passados. Ainda falamos de questões trabalhistas, de competitividade de exportação, especialmente por impostos que ficam na cadeia. Não temos mais tempo para discutir isso, o futuro está vindo muito rápido. O caso do Reintegra, por exemplo, discutimos há mais de dois anos. Precisamos de uma interlocução forte com o governo para discutir que tipo de indústria o governo quer ter”.
Outro ponto, disse, é que “a indústria hoje é muito dependente de capital internacional porque as empresas são globais. A indústria tem que ser mais brasileira do que é hoje, precisa de capital local, se não ficamos 100% dependentes e quando a situação fica complicada o capital internacional começa a tomar outras atitudes rapidamente”.
Zarlenga acredita que “2021 é o ano em que, como indústria, temos que começar a trabalhar em uma estratégia de transformação de tecnologia de longo prazo: produção de baterias, infraestrutura de eletrificação etc. Essas coisas não vão ser tornar realidade no ano que vem, mas temos que moldar uma base para o futuro de forma a gerar novos investimentos”.
Sobre as interrupções de produção na unidade de Gravataí, RS, provocadas por falta de componentes, particularmente eletrônicos, Zarlenga disse que é uma situação ruim, mas que está negociando com os fornecedores “tudo o que pode”. Ele confirmou que em abril e em maio haverá impactos, mas diz que “entraremos forte na segunda metade do ano” e que vê o quadro atual como “uma oportunidade para fazer mais” com os produtos que não são produzidos em Gravataí, como Tracker, Spin e S-10.
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