São Paulo – O recuo na cotação do minério de ferro em setembro, de 21,7%, foi tão intenso que puxou para baixo o IGP-M, Índice Geral de Preços ao Mercado, que deflacionou 0,64% este mês, e o IPA, Índice de Preços ao Produtor Amplo, que responde por 60% do indicador de inflação e apresentou queda mais intensa, de 1,21%. No entanto a redução no custo do metal que dá origem ao superfaturado aço ainda não se reflete nos valores cobrados pelo insumo nem alivia os custos da cadeia produtiva. O quanto se cobra pelo produto é queixa uníssona e constante de empresas fabricantes do setor automotivo.
Em cenário marcado pelo combo de dólar alto, petróleo em trajetória ascendente, crise hídrica e custo da energia nas alturas e escassez de contêineres, o que também eleva o custo da logística, dificilmente as despesas diminuem. Tanto que o recorte da inflação na indústria de transformação mostra avanço de 1,54% em setembro.
De acordo com economista especialista em setor automotivo, Adriano Oliveira, existe defasagem de tempo para o preço do minério se refletir no valor do aço: “Uma hora os preços convergirão, mas não sabemos quando. Sempre que passa de uma indústria para outra há um lapso temporal. São setores que trabalham com contratos de fornecimento bem definidos e, portanto, há menos espaço para a volatilidade”.
No mercado internacional em julho de 2020 a tonelada do metal era negociada a US$ 80, valor que quase triplicou em julho deste ano, para US$ 220, e agora caiu pela metade, para US$ 120, cifra praticada em julho de 2019, anterior à pandemia, e até então seu último pico. Embora o aço utilizado nas linhas de produção seja o laminado o custo do vergalhão, muito usado na construção civil, quase dobrou na pandemia. Ou seja, subiu, mas em velocidade menor do que sua matéria-prima, e se mantém em trajetória de alta.
Oliveira citou que existe a possibilidade de as siderúrgicas nem repassarem para a indústria e o semiacabado dificilmente refletir a queda: “Os preços de energia no mundo estão muito elevados, seja petróleo, propano, etanol. No Brasil ainda temos o agravante da crise hídrica. Isso se reflete tanto na indústria quanto no consumo e essa parte ainda não dá sinais de queda. Essa redução dificilmente permanecerá para puxar para baixo o preço do carro”.
Impacto – Conforme pontuou André Braz, coordenador dos índices de preços da FGV, Fundação Getulio Vargas, não fosse o desempenho do minério de ferro o IGP-M teria avançado 1,21% no mês. Mesmo com a deflação de janeiro a setembro o indicador acumula 16% e, em doze meses, 24,8%. No IPA, que tem impacto direto sobre a atividade industrial, a pressão dos preços é mais intensa e, no ano, a variação soma 19,1%, enquanto que, em dez meses, 30,5%.
Os dados da FGV mostram que a inflação dos bens intermediários, que incluem componentes para a manufatura da cadeia de autopeças, como aço, borracha e materiais plásticos, avançou 1,6%, enquanto que, em agosto, foi 2,1%. Este ano os custos já subiram 29% e, nos últimos doze meses, acumulam alta de 42%.
Os bens finais, que incluem a fabricação de veículos e de maquinários, encareceram 1,6% este mês, enquanto que no mês passado o incremento havia sido de 2,2%. Nos nove primeiros meses de 2021, a alta é de 14,6% e, nos 12 meses terminados em setembro, 23,6%.
Segundo o especialista Adriano Oliveira o fato de o dólar estar no patamar de R$ 5 e as projeções apontarem para que o câmbio continue assim pelos próximos anos contribui para a pressão nos custos de produção. Além disso o barril de petróleo, que em março de 2020 era cotado a US$ 23, agora está a US$ 80: “Embora esse seja valor considerado normal, e que costumava ser praticado antes dessa redução atípica, o dólar não estava tão valorizado. E a soma desses dois fatores só encarece ainda mais o processo produtivo”.
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