São Paulo – Após a trégua na aceleração do IGP-M, Índice Geral de Preços-Mercado, em setembro, quando apresentou deflação de 0,64% puxada pela queda de 21,7% no preço do minério de ferro, em outubro os preços voltaram a subir. O IGP-M variou 0,64% este mês e o IPA, Índice de Preços ao Produtor Amplo, que tem peso de 60% na composição do indicador, 0,53%. No mês passado fora deflacionado em 1,21%.
E para compor o já turbulento cenário, também impulsionado pelo dólar alto, o Banco Central elevou a Selic para 7,75% ao ano, na tentativa de arrefecer a disparada dos valores.
Em outras palavras ficam mais pressionados os custos dos fabricantes da cadeia automotiva, que já têm de lidar com a falta de semicondutores. Tanto que no recorte da indústria de transformação os preços tiveram alta de 1,94% em outubro. Quando se olha para a inflação dos bens intermediários, incluídos componentes como aço, borracha e plástico, houve avanço de 2,65%. Nos bens finais, onde estão veículos e máquinas, não foi diferente, com alta de 1,08%.
De acordo com o coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, os preços por atacado guardam forte relação com o câmbio, que desde o início da pandemia teve expansão significativa que o colocou no patamar de R$ 5 e provavelmente ainda haverá ciclos de alta, embora não na mesma intensidade. Na tarde da quinta-feira, 28, a moeda estava cotada a R$ 5,62.
“É importante lembrar que todas as moedas perderam valor com relação ao dólar. Boa parte delas já voltou, mas o real continuou desvalorizado devido aos desajustes internos políticos e econômicos, que conta agora com decisão do ministro da Economia, Paulo Guedes, de romper com o teto de gastos”.
Balistiero apontou ainda que o componente adicional da escalada dos juros tende a complicar o meio de campo já pressionado pelos custos, pois muitas empresas realizam compras com o uso de financiamentos, que acaba sofrendo reflexo da alta da taxa básica:
“Anteriormente se apostava em Selic estagnada na casa dos 8% e agora é esperado algo perto dos 11%, ou seja, dois dígitos. Isso certamente piora a situação. Na ponta é líquido e certo que o crédito chegará mais caro, mas quando pensamos na cadeia produtiva também há impacto. E se o custo das fabricantes sobe de alguma maneira isso acaba sendo repassado ao consumidor final”.
Insumos – A redução no valor das matérias-primas, de 1,87%, puxada pelo minério de ferro, que sofreu deflação de 8,47%, não foi suficiente para segurar o aumento dos preços à indústria e nem do IGP-M como um todo, pois, conforme André Braz, coordenador dos índices de preços da FGV, Fundação Getulio Vargas, essa queda menos intensa foi justamente um dos principais fatores que levou à aceleração do indicador em outubro.
Segundo o economista Adriano Oliveira, especialista no setor automotivo, o fundo do poço para o metal já foi atingido em setembro, quando a tonelada era cotada a US$ 105. Hoje está em US$ 117: “Essa variação pode ser considerada uma estabilidade. Em novembro a tendência é de queda menor nos preços, que atingiram ápice em maio, quando a tonelada era negociada a US$ 228. Acredito que pelos próximos meses deva seguir o caminho de acomodação dos valores”.
Apesar do comportamento de preços do insumo que origina o aço o setor não tinha visto recuo no custo. Ao contrário o aumento constante era queixa uníssona de empresários do ramo. Com base na cotação do vergalhão, usado na construção civil, que recuou 20% na segunda quinzena de outubro, Oliveira disse que é possível esperar, finalmente, impacto na bobina: “Parece que agora a queda no preço do minério de ferro e no do aço futuro começarão a convergir. Com base nesses dados parece que não serão, mais, os vilões no aumento dos custos”.
Item importante na cadeia produtiva, o diesel, teve alta significativa em outubro, de 6,61%. O incremento só não foi maior, conforme alertou Braz, porque o reajuste da Petrobras anunciado na segunda-feira, 25, de 9,15%, elevando o litro do combustível na refinaria para R$ 3,34, ainda não havia sido captado pelo indicador. Ou seja: haverá mais pressão na inflação de novembro.
Para Balistiero esta não é realidade que tem data para terminar, pois o preço do barril petróleo está em recuperação no mercado internacional e o inverno no Hemisfério Norte pode trazer maior demanda pelo combustível fóssil.
Não à toa a categoria do motoristas cogita se mobilizar para nova greve em busca de incentivos: de acordo com Oliveira muitos deles contrataram financiamentos recentes para comprar caminhões, mas com a pandemia alguns não conseguiram honrar os pagamentos, uma vez que o frete não subiu e o diesel vem nessa escalada de preços: “O transportador absorveu. Porém, ao que tudo indica, deverá repassar essa alta”.
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