São Paulo – A crise de abastecimento de componentes automotivos, que desde o segundo trimestre afeta a produção automotiva nacional e provoca interrupções na produção, lay offs e prejudica as vendas ao mercado doméstico, tende a encontrar no caminho outra crise que vem se desenhando: a econômica. Bem quando uma outra questão, a pandemia, parece aos poucos estar chegando ao fim.
Ainda é cedo para bater o martelo de que a economia brasileira entrará em recessão, mas diversos analistas já apontam para o caminho do baixo crescimento ou estagnação em 2022. Para o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, a maior preocupação vem do aumento das taxas de juros, instrumento usado pelo Banco Central do Brasil para tentar frear a inflação que cresce mês a mês.
“Os juros do CDC [crédito direto ao consumidor, principal ferramenta de financiamento de veículos] está batendo 23,5% ao ano, o maior índice desde 2017. Os bancos aumentarão os juros, o ambiente de negócios, hoje, no Brasil, não é bom”, disse Moraes, citando outros índices que não estão bons, como o risco Brasil e o câmbio. “A decisão do governo de furar o teto de gastos, ao aprovar a PEC dos precatórios, não agradou ao mercado.”
Embora uma resolução da crise de abastecimento não esteja no horizonte – ao contrário: consultorias estão revendo suas estimativas de duração da crise dos semicondutores para até o começo de 2023 e, no curto prazo, uma greve no porto de Santos ameaça tornar ainda mais emocionantes o trabalho das equipes de logística e produção das montadoras – havia a expectativa da indústria de ter um 2022 com crescimento: “Ainda esperamos ter, mas o momento atual não ajuda. Precisamos encontrar uma saída para não ter um ano ruim em 2022”.
E há outro fator que torna a preocupação de Moraes ainda maior: o ano é de eleição. Na sua opinião a eleição, no Brasil, para tudo: “Não é possível que fiquemos o ano inteiro discutindo eleição e que o Congresso interrompa a agenda econômica. Precisamos aprovar as reformas, pensar na grande quantidade de gente desempregada, passando fome. Brasília precisa perceber isso o mais rápido possível”.
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