São Paulo — A redução do IPI anunciada em fevereiro trouxe impactos positivos e negativos para o setor automotivo em março. De um lado ajudou no recuo dos preços praticados, à medida que a maioria das empresas repassou ao consumidor ao menos uma parte, atenuando a sequência de altas nos preços dos veículos. Mas, segundo Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, o anúncio da segunda redução, que ainda não saiu, pode ter segurado parte das vendas:
“Anúncios como o do IPI, vai ter ou não vai ter?, pode ter promovido uma postergação de uma ou duas semanas nas aquisições”.
Mesmo com esses impactos março foi o melhor mês do ano, somando 146,8 mil veículos comercializados e mantendo a sequência de crescimento desde janeiro, razão pela qual a Anfavea ainda aposta em suas projeções para o ano, que consideravam um primeiro semestre mais complicado. Na comparação com igual mês de 2021 houve queda de 22,5% e com relação a fevereiro o incremento foi de 10,9%.
O resultado do trimestre, o pior em dezessete anos, apontou 405,7 mil unidades emplacadas, queda de 23,2% sobre igual período de 2021. As vendas mensais de veículos para PcD, Pessoas com Deficiência, caíram de 7 mil/mês para para 4,5 mil/mês, resultado das novas regras e da crise dos semicondutores, movimento que afetou os números do começo do ano.
Outro fator que impactou o setor de janeiro a março foi a menor entrega para locadoras, pois a previsão era de 100 mil unidades no trimestre e o volume comercializado não superou 70 mil unidades.
Segundo Moraes a queda foi em todod os segmentos, incluindo os SUVs, com volume 2,9% menor do que o do primeiro trimestre de 2021, a menor retração registrada nos segmentos de veículos leves. Os demais segmentos, como picapes de cabine dupla, picapes de cabine simples e hatches, apresentaram queda de 20% a 40% no período.
Moraes disse que o recuo da indústria automotiva nacional no trimestre segue o mesmo caminho de outros mercados relevantes, apresentando uma lista com outros doze países: só a China registrou pequena expansão de 0,5%. A retração ainda é reflexo das dificuldades com fornecimento de componentes, situação agravada com a guerra na Ucrânia.
O estoque de veículos no último dia de março foi de 125,5 mil unidades, suficientes para abastecer o mercado durante 25 dias, número que aumentou quando comparado a meses anteriores, quando os estoques registraram o menor nível da história:
“Ainda é cedo para afirmar se esse aumento é reflexo de uma demanda menor, pois ainda consideramos outros elementos nesse cenário, como a questão do IPI, a falta de semicondutores, o aumento dos combustíveis, a alta da taxa de juros, inflação. É difícil carimbar que o estoque maior é reflexo de apenas um fator”.
O presidente disse que é necessário aguardar mais alguns meses para avaliar a questão da demanda e, mesmo que ocorra um recuo no varejo, ainda existirá uma forte demanda das locadoras, que já sinalizaram a necessidade de 600 mil veículos para renovar a frota envelhecida durante a pandemia.