Dificuldades de abastecimento de semicondutores faz indústria perder um trimestre de produção
São Paulo – Em pouco mais de um ano cerca de 500 mil veículos deixaram de ser produzidos nas fábricas brasileiras por falta de semicondutores. A estimativa é da Anfavea, que calcula ter, no ano passado, deixado de fabricar em torno de 350 mil a 370 mil unidades e, neste ano, outras 150 mil até maio. O volume de produção perdida equivale ao que saiu das fábricas brasileiras no primeiro trimestre: 496,1 mil unidades.
A crise dos semicondutores completou um ano em abril e, embora esteja se tornando menos aguda, segue prejudicando a programação das montadoras. Os impactos já são conhecidos: fila de espera nas concessionárias, empresas priorizando a produção de modelos de maior valor agregado, locadoras com menos disponibilidade de veículos e fornecedores tendo que se adaptar aos cronogramas malucos de produção.
Um cenário que vem tirando o sono dos executivos do setor, segundo o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite: “Quem dormia seis horas por noite passou a dormir apenas três”, disse ele na terça-feira, 7, durante a apresentação dos resultados da indústria de maio e do acumulado do ano.
Ainda assim a entidade mantém a projeção de produção e vendas divulgada em janeiro: “A média diária de emplacamentos já subiu para 8,5 mil unidades no mês passado e está em crescimento constante. Precisamos no segundo semestre ter uma média de 10 mil/dia para chegar às projeções. O que é perfeitamente possível”.
Segundo Lima o abastecimento de semicondutores tende a se normalizar nos próximos meses, com a abertura de ao menos 26 fábricas em todo o mundo. A vontade da Anfavea, que mantém conversas com o governo brasileiro, é a de que exista a produção local do componente para que o País deixe de ser dependente de fornecedores externos.
“A demanda interna justifica a produção local, inclusive o processo de fundição, o mais delicado da cadeia dos semicondutores. Mas o Brasil não fará investimento para reduzir a crise, não será parte da solução global. O semicondutor é um insumo estratégico, importante para toda a indústria, não só a automotiva. Mas é projeto para o longo prazo.”
Este é um dos temas prioritários nas conversas que a Anfavea vem mantendo com o governo, em diversos ministérios. Segundo Leite este, e a descarbonização, estão no topo da pauta: “A última reunião com [ministro da Economia] Paulo Guedes durou mais de duas horas. Ele quis revisar item por item da nossa pauta. Mas não fizemos nenhum pedido: estamos apenas dando ao governo um panorama da indústria e sugerindo soluções”.
O presidente da Anfavea disse ainda que novas reduções do IPI estão no horizonte do ministro, que deu essa sinalização sem precisar prazos ou intensidade dos cortes.