São Paulo – A situação econômica na Argentina, que tem restrições impostas pelo governo ao uso de dólares para o pagamento de importações, preocupa o setor automotivo do Brasil, seu principal parceiro. Para a Scania, que possui em Tucumán seu braço argentino para a produção de caixas de câmbio para pesados, é preciso normalizar as licenças de exportação a fim de atender à demanda reprimida no país, afirmou seu CEO para a América Latina, Christopher Podgorski.
O executivo lembrou que a Argentina é o principal parceiro comercial no continente, não só da empresa mas da indústria em geral, o que traz ainda mais inquietação:
“O país vive momento de escassez de moeda forte e, portanto, não tem condições de cumprir o que está estabelecido no tratado de balanço de negócios: independente do Mercosul existe o tratado do fluxo de capitais pelos países por meio do qual, em tese, a partir de meados do próximo ano, poderemos exportar US$ 1,9 a cada US$ 1 importado.”
Em cifras maiores significa que a cada US$ 100 que a companhia exportar desde Tucumán hoje torna viável, no ano que vem, que a unidade brasileira exporte US$ 190 para a Argentina. Ou, ilustrando com os próprios produtos, a cada 23 caixas de câmbio, peças e componentes que seguem para serem montados em São Bernardo do Campo, SP, exporta-se um caminhão para a Argentina.
“Nós, Scania, cumprimos a regra hoje e esperamos que possamos usufruir no ano que vem. Tradicionalmente temos posição privilegiada por causa da nossa unidade industrial em Tucumán, que possui importante fluxo de exportação de componentes para caixas de velocidade de câmbio.”
Mas a realidade enfrentada nos dias atuais é de restrição do volume de veículos que a Scania poderá exportar para a Argentina, apesar da demanda reprimida existente, ponderou Podgorski: “O que precisa haver é a normalização no fluxo de emissões das licenças de importação por parte do governo argentino para que possamos capitalizar e fazer frente a esse potencial de demanda no mercado argentino”.
Desta forma, e independentemente de quem vença a eleição presidencial no Brasil, Podgorski enfatizou a importância de o novo governo estabelecer ambiente de negócios com perspectiva de longo prazo, a fim de que a indústria tenha previsibilidade para seguir com seus programas de investimento: “Se não tivéssemos a planta de Tucumán nossos volumes e participação no mercado argentino de caminhões e ônibus estaria por demais comprometida”.
Destaque – Apesar do cenário turbulento a fábrica de Tucumán, que Podgorski considerou como uma extensão do polo do ABC pelo fato de não produzir veículos mas se dedicar a atividade específica e essencial à montagem dos pesados, recebeu investimentos e foi modernizada para tornar-se parte integrante do fornecimento global da Scania.
Ou seja: a fábrica não exporta somente para o Brasil mas, também, para a Suécia e para a Holanda e a França.