São Paulo – Juros são um remédio extremamente amargo, ainda mais desagradável para setores que têm tíquete médio maior, a exemplo do de veículos, em que o impacto é mais intenso, uma vez que o crédito é peça fundamental em sua engrenagem. Mas a taxa básica deverá continuar em patamar elevado, com possibilidade de redução de 1,25 ponto porcentual no último trimestre, passando dos atuais 13,75% para 12,5% ao ano. Foi o que apontou Fernando Gonçalves, superintendente de pesquisa econômica do Itaú, durante o terceiro dia do Seminário Megatendências 2023 – O Novo Brasil, realizado de forma online até sexta-feira, 24, pela AutoData Editora.
“Se não deixar os juros onde estão a inflação ficará ainda mais alta, o que trará incertezas e o ano encerrará com economia fraca e inflação elevada.”
De acordo com as projeções do Itaú o IPCA, que chegou a dezembro de 2022 aos 5,8%, deverá encerrar 2023 em 6,1%, embora no acumulado dos doze meses terminados em fevereiro o índice tenha variado 5,6%. O economista lembrou que em abril do ano passado o indicador estava em 12,1% e que a queda abrupta foi estimulada pela desoneração de impostos, PIS/Cofins, Cide e ICMS. O que trouxe como efeito colateral três meses de deflação.
E justamente a reoneração de impostos é que deve puxar o avanço do IPCA. Um desses aumentos, inclusive, ocorreu no fim de fevereiro, quando alíquotas de PIS/Cofins voltaram a ser cobradas sobre o etanol e a gasolina, tendo o renovável um peso menor.
“Já tivemos, parcialmente, a volta do PIS/Cofins, e teremos a completude desse movimento quando caducar a medida provisória que determinou o aumento parcial. Há também uma discussão sobre a essencialidade dos combustíveis, que pode cair e, assim, a alíquota do ICMS avançar acima de 18%. Caso isso ocorra, teremos de revisar nossa projeção de 6,1% para 6,5%.”
Segundo o especialista também pesa na equação a condução da política econômica neste início de governo. Se por um lado o empenho do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em anunciar medidas para evitar aumento do déficit da economia demonstrou responsabilidade fiscal, assim como o fato de bater na tecla da reforma tributária, por outro lado ele disse não acreditar que haja a aprovação dessas medidas até o meio do ano, como vem sendo aventado.
Outro ponto destacado é que, dependendo de como for adotado o arcabouço fiscal no lugar do teto de gastos, a crise poderá ser maior ou menor. “O mercado está dizendo que está na hora de os juros começarem a cair, mas não é a nossa visão. Além do que é difícil imaginar grandes cortes de juros este ano.”
Redução de juros pode ser antecipada para terceiro trimestre
Há a possibilidade, no entanto, de haver antecipação da redução da Selic do segundo para o terceiro trimestre, ponderou Gonçalves, o que dependerá do desempenho da atividade econômica. Se a economia piorar o corte de juros vem antes.
Para 2023 a projeção do Itaú é desaceleração do crescimento do PIB, de 2,9% no ano passado, para 1,3% este ano. Apesar do melhor desempenho na geração de riquezas no primeiro trimestre, principalmente por parte do agronegócio e, em especial, pela soja, pelo resto do ano a economia deverá andar de lado.
O economista disse que, se no ano passado as famílias sofreram mais para honrar suas dívidas, este ano o impacto da inadimplência já está refletindo nas empresas. E, diante da escassez de crédito e da renda corroída, o poder de compra diminuiu.
A perspectiva do Itaú é que o agronegócio avance 10,1% em 2023, e a indústria apenas 0,4%: “O setor industrial é o mais afetado pelos juros altos. É o que tem estoque e que necessita investir em máquinas em equipamentos. Os juros altos, portanto, ajudam a explicar porque a atividade industrial fica baixa”.