São Paulo – Previsibilidade. A palavra é usada de forma recorrente pelos dirigentes da indústria automotiva nacional, que pedem ao governo regras claras para que possam fazer seus planejamentos no longo prazo. A falta dela, da previsibilidade, foi a reclamação de Alexander Seitz, chairman da Volkswagen América Latina, a respeito do programa de descontos de R$ 2 mil a R$ 8 mil desenhado pelo governo para veículos de até R$ 120 mil, que beneficiou a sua Volkswagen e suas concorrentes com um aumento pontual nas vendas dos modelos de entrada.
No caso da Volkswagen, segundo seu chairman, as vendas a pessoas físicas cresceram 38% ao passo que as vendas diretas, que incluem locadoras, caíram 35% desde o começo do programa. Na prática houve empate no mercado total, porque, segundo ele, as vendas estavam meio a meio. O objetivo do governo, portanto, que era elevar as vendas, reduzir a ociosidade da indústria e preservar postos de trabalho, não será atingido.
“Acabou a festa. Os R$ 500 milhões [reservados pelo governo para o programa de leves] acabarão nos próximos dias e aí ficaremos com o estoque das pessoas jurídicas parado. Mas o programa foi alterado e agora prevê mais quinze dias de vendas exclusivas para pessoas físicas. Vai aumentar o valor? E as pessoas jurídicas, serão incluídas?”.
Na opinião do executivo a tendência é de que diversos layoffs sejam promovidos em julho e agosto, por causa da formação de estoque que previa a entrada das locadoras no programa e também dos veículos mais caros que, segundo ele, tiveram a demanda reduzida. Ao mesmo tempo a antecipação de compras das pessoas físicas reduzirá o movimento no varejo. Mas Seitz descartou, por ora, paradas na Volkswagen:
“No varejo houve antecipação de compra. Nas pessoas jurídicas havia expectativa e não teve o desconto. No fim das contas não vai ter crescimento nenhum. Este tumulto no mercado terá uma contrapartida em julho e agosto: a indústria terá problemas com estoques e necessidades de layoffs”.
Apesar de tudo, Seitz considera o conceito do programa ótimo. Sua queixa tem a ver com a execução, feita sem previsibilidade e sem pensar em todos os envolvidos: “Precisa atender a todos os stakeholders: clientes, montadoras, fornecedores, locadoras. Do jeito que foi feito o programa excluiu metade do mercado. Precisamos de previsibilidade”.