São Paulo – A cada balanço reportado os lucros da Stellantis crescem na mesma medida em que aumentam a certeza de que foi um negócio para lá de bom, para ambos os lados, a fusão dos grupos PSA e FCA, consolidada há apenas dois anos e meio. No curso do terceiro ano da união o balanço do primeiro semestre de 2023, divulgado na terça-feira, 26, reporta novos recordes de receitas líquidas, lucro operacional e lucro líquido, com margens sobre faturamento de dois dígitos em todas as suas cinco regiões operacionais.
As vendas acumuladas de janeiro a junho, de 3,3 milhões de veículos em todo o mundo, expansão de 10% sobre o primeiro semestre de 2022, asseguraram à Stellantis o impressionante faturamento de € 98,3 bilhões, avanço de 12% ou € 10 bilhões a mais do que no mesmo período do ano passado, graças principalmente à redução dos problemas de abastecimento de componentes, o que permitiu o aumento da produção e das entregas de veículos aos clientes.
E graças ao que a Stellantis chama de “disciplina de preços” – o que pode ser traduzido em reajustes constantes evitando entrar em guerras de promoções –, o lucro operacional ajustado, antes de despesas financeiras e impostos, somou € 14,2 bilhões, em crescimento de 11% na comparação com o primeiro semestre de 2022, sustentando assim a forte margem operacional de ganho de 14,4% sobre o faturamento do grupo.
Segundo relatório financeiro da Stellantis o excelente desempenho financeiro e uma redução de custos não usuais culminou em lucro líquido semestral recorde de € 10,9 bilhões, aumento de 37% na comparação com o mesmo período de um ano antes.
Com este desempenho financeiro positivo sobrou mais dinheiro disponível para bancar gastos e investimentos: os fluxos de caixa livres industriais da companhia somaram € 8,7 bilhões, ou € 3,3 bilhões acima do primeiro semestre de 2022.
Em comunicado o CEO Carlos Tavares declarou que os resultados recentes garantem o futuro da Stellantis: “O nosso excelente desempenho no primeiro semestre deste ano apoia a nossa sustentabilidade a longo prazo e a nossa capacidade de concretizar as ambições arrojadas do nosso plano Dare Forward 2030. Orgulho-me de dizer que as equipes apresentam resultados em múltiplas dimensões. Estamos bem-posicionados para a continuidade de 2023 e além”.
América do Sul sustenta bom desempenho
Nos mercados sul-americanos, onde o Brasil representa em torno de 70% dos resultados, a Stellantis continuou a apresentar desempenho positivo no primeiro semestre: apesar do fraco avanço das principais economias da região as vendas cresceram 4%, para 420 mil veículos, colocando a empresa na liderança na América do Sul, com participação de 23,7% somando todas as marcas e com a Fiat à frente de todas com market share de 14,1%.
Apesar de os volumes não terem crescido tanto o lucro operacional continua vistoso: € 1,1 bilhão no semestre, em crescimento de 7% sobre o mesmo período de 2022, o que representa boa margem de 14,2% – praticamente igual à média global do grupo – sobre o faturamento de € 7,6 bilhões na região, 5% maior do que o registrado um ano antes.
Segundo relatório da Stellantis o principal combustível para sustentar a boa margem operacional de lucro na América do Sul foi a liderança de mercado combinada com reajustes de preços, o que compensou o mix desfavorável de vendas e elevação de custos industriais causada pelo aumento nos preços de insumos.
A Stellantis foi a fabricante que mais se utilizou dos descontos patrocinados pelo governo durante os meses de junho e julho e, para aquecer ainda mais suas vendas, concedeu descontos adicionais. Em recente conversa com jornalistas Antonio Filosa, presidente da Stellantis América do Sul, ponderou que estas ações foram temporárias e não devem prejudicar os resultados financeiros na região: “Conseguimos compensar as reduções de preços com aumentos de volumes”.
Margens robustas
Além do bom desempenho na América do Sul em todas as regiões do mundo onde opera a Stellantis conseguiu registrar lucros expressivos e margens operacionais robustas, mesmo diante de ambientes adversos com inflação em alta e câmbio desfavorável.
O grupo registrou o maior lucro operacional na América do Norte, o recorde de € 8 bilhões, e também a segunda maior margem operacional, de 17,5%, mesmo com o recuo de 1,3 ponto porcentual na participação de mercado, para 10%.
Na Europa, em trinta países, mesmo com perda de 2,2 pontos, a participação de mercado das marcas Stellantis segue alta, em 19%, o que garantiu o segundo maior lucro operacional da empresa no mundo, de € 3,7 bilhões, e a mais baixa margem, de 10,7%.
Ao contrário de vários concorrentes a Stellantis tem participação tímida nos mercados de China e Índia e Ásia-Pacífico, mas o lucro ainda baixo de € 294 milhões no primeiro semestre cresceu 9% sobre o ano passado e a margem avançou 2,3 pontos, para 14,8%.
A região operacional de maior crescimento para a Stellantis na primeira metade de 2023 foi no conjunto de países da África e Oriente Médio, com lucro operacional de € 1,2 bilhão e margem que cresceu 8,5 pontos, para 25,9%, a maior no mundo. As marcas do grupo na região ocupam a segunda posição no ranking dos veículos mais vendidos, com participação combinada de 15,1%.