Ao mesmo tempo em que celebra a inauguração da expansão em Camaçari a fabricante de pneus enfrenta concorrência, que seu presidente Vicente Marino julga desleal, de pneus importados
São Paulo – Com a presença de ministros como Geraldo Alckmin, do MDIC, e Rui Costa, da Casa Civil, a Bridgestone inaugurou na semana passada a primeira fase de uma ambiciosa expansão da fábrica de Camaçari, BA, inaugurada em 2006. Ao fim de 2024, calcula seu presidente para a América Latina Sul, Vicente Marino, a capacidade de produção saltará em mais de 40%, para 15,2 mil pneus por dia. A companhia, há mais de oitenta anos produzindo no Brasil, vislumbra o futuro com a ampliação, mas o executivo alerta: o cenário atual é um dos mais complicados já vividos pela indústria de pneus.
A questão principal é o preço do pneu importado, bem abaixo do nacional, mesmo com alíquotas de importação restabelecidas – durante o governo Bolsonaro a importação de pneus de carga foi zerada, por exemplo. E a invasão ocorre em todos os segmentos, de acordo com o executivo, que reclama de concorrência desleal:
“Chegam pneus com custos inferiores ao que pagamos pela matéria-prima, que teve seu imposto reajustado para cima recentemente. Sabemos também que existem subsídios em alguns países para a produção de pneus. O governo está ciente e está estudando medidas para reequilibrar o cenário. Não pedimos subsídios ou redução de impostos: só queremos fair play”.
Segundo o presidente da Bridgestone a questão não é só falta de competitividade, pois em outras operações ao redor do mundo este fenômeno não ocorre. E afeta a companhia e suas concorrentes no Brasil, cujo reflexo está exposto nos números de venda de nacionais e de importações divulgados pela Anip.
“As seis principais fabricantes de pneus do mundo estão no Brasil, com fábricas, gerando emprego e entregando produtos com qualidade. É uma situação complexa essa competição desleal porque afeta diretamente a continuidade dos investimentos”.
Marino não quis fazer pleitos: disse que cabe ao governo definir qual ferramenta utilizar, seja readequação tributária ou salvaguardas para a importação dos pneus, que chegam principalmente da Ásia com, segundo ele, menos qualidade e reciclabilidade.
A preocupação com o meio-ambiente, inclusive, é um dos pontos que ele considera desleal na concorrência: “Todos nós, fabricantes, que produzimos aqui precisamos atender a logística reversa: coletamos 100% dos pneus que são produzidos. Muitas destas importadoras não o fazem, ou quando fazem burlam as regras. Os grandes prejudicados são os brasileiros, porque os pneus não têm sua destinação correta e acabam contaminando o meio-ambiente”.
Durante a visita de Alckmin e de Rui Costa a Camaçari o assunto veio à tona e, segundo Marino, partiu do próprio governo que afirmou estar ciente da situação. Não há, porém, nenhuma medida concreta em discussão à mesa. Mas o executivo disse confiar, e esperar, uma rápida solução, antes que seja tarde demais.
“O layoff foi a nossa última alternativa. Não é do nosso agrado ter funcionários em casa, sem trabalhar, fazendo cursos. Queremos todos trabalhando nas linhas. E esperamos não precisar adotar medidas ainda mais drásticas.”
Segundo Marino o cenário do mercado de pneus afeta os negócios da Bridgestone, que registrou, no ano, queda na faixa dos 4% a 8% nas vendas, comparado com o ano passado, dependendo do segmento: “Só quem vê crescer as suas vendas são os importadores. A indústria toda está em queda”.
Expansão
Para ampliar e modernizar a fábrica, que ganhou equipamentos dentro do conceito de indústria 4.0, a fabricante de pneus investiu R$ 1 bilhão em Camaçari, que, segundo Marino, estará ao fim do ciclo pronta para produzir pneus do que chama de nova fase da indústria automotiva, a era elétrica.
“Os pneus usados nos veículos elétricos aparentemente são semelhantes aos atuais. Mas têm condições particulares: precisam ser mais leves, possuir resistência ao rolamento mais forte e ter baixo nível de ruído, por exemplo. Neste primeiro momento não produziremos ainda este tipo de pneu, mas a fábrica já está pronta para esta virada quando a demanda vier.”
Com o investimento a Bridgestone promoveu uma reorganização da sua produção local. Os pneus de passeio, antes produzidos também em Santo André, agora serão feitos apenas em Camaçari. Das linhas do ABC Paulista sairão pneus de carga.
Prioritariamente a unidade baiana atende ao mercado nacional mas, conforme a produção crescer, voltará a ampliar suas exportações para a região. Que, na Bridgestone, é um pouco diferente do mapa: Marino preside a divisão América Latina Sul, que representa todos os países da América do Sul com exceção da Colômbia, que é atendida por uma fábrica na Costa Rica, da divisão América Latina Norte.