Aporte será aplicado este ano para aumentar capacidade de produção de motores GSE turbo, parcela maior é parte do ciclo de R$ 30 bi no período 2025-2030
Betim, MG – O polo automotivo da Stellantis em Betim, MG, receberá a maior parte dos R$ 30 bilhões que a empresa promete investir em operações brasileiras no período 2025-2030. Serão aportados R$ 14 bilhões na unidade, o maior investimento já feito na unidade mais antiga do grupo no País, inaugurada em 1976 com o Fiat 147. Os recursos serão aplicados no desenvolvimento de novos produtos e na modernização de processos produtivos.
Mas antes disto, ainda no segundo semestre deste ano, está sendo ampliada para 1,1 milhão de unidades/ano a capacidade da planta de motores GSE turbo de Betim, inaugurada em 2021. Para isto a empresa investe R$ 454 milhões que ainda fazem parte do programa antigo, de R$ 16 bilhões anunciados pela então FCA em 2018, antes da fusão com a PSA que criou a Stellantis, em janeiro de 2021.
“Estes recursos ainda são do programa anterior que termina este ano”, disse Emanuele Cappellano, presidente da Stellantis América do Sul. Os investimentos foram anunciados conjuntamente nesta segunda-feira, 21, em evento no complexo de Betim, com a presença do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, e outras autoridades.
Segundo Cappellano a empresa transferirá “alguns ferramentais de uma fábrica” na Europa que está sendo desmobilizada: “É uma operação normal por unidades da empresa, com o objetivo principal de dobrar a capacidade de produção de motores que precisaremos para os novos produtos e também para exportações que deveremos fazer a partir daqui”.
A manobra financeira para esticar um investimento que já tinha esgotado seus recursos no ano passado, segundo havia confirmado Antonio Filosa, a quem Cappellano sucedeu no fim de 2023, foi executada sob medida para aproveitar os incentivos do Mover, que só este ano direciona créditos tributários no total de R$ 3,5 bilhões para financiar projetos dos fabricantes de veículos e de autopeças, incluindo linhas de manufatura.
O anúncio de R$ 14 bilhões para Betim é um desdobramento do plano estratégico Next Level da companhia para a América do Sul, de 2025 a 2030, que reserva R$ 30 bilhões em investimentos da Stellantis no Brasil, que agora se junta aos R$ 13 bilhões para a fábrica de Goiana, PE, anunciado em abril. Na próxima segunda-feira, 27, deverá ser divulgado o destino dos R$ 3 bilhões restantes do programa, em anúncio a ser feito na fábrica de Porto Real, RJ, que produz a nova linha de modelos Citroën.
Maior investimento da história de Betim
Betim fica, assim, com o maior quinhão do plano da Stellantis para a América do Sul, que será o maior investimento da história do complexo em seus 48 anos de operação.
“É natural pois aqui temos a nossa maior e mais antiga operação no País, que concentra toda a engenharia, onde trabalham 4 mil pessoas que estão desenvolvendo novos produtos não só para o Brasil e região mas também para projetos globais.”
É a engenharia de Betim que desenvolve boa parte dos quarenta veículos e oito powertrains de cinco marcas – Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën e Ram – que serão lançados dentro do ciclo de investimentos de R$ 30 bilhões, portanto parte dos recursos aplicados na unidade mineira também beneficiarão as outras duas plantas de montagem, em Pernambuco e no Rio de Janeiro.
Também é em Betim que está sendo desenvolvida a plataforma Bio-Hybrid, sobre a qual serão construídos veículos híbridos e elétricos que a Stellantis produzirá ao longo dos próximos cinco anos. Cappellano confirmou que todas as marcas da Stellantis terão, gradativamente, modelos híbridos em suas linhas de produtos. Segundo ele é uma ação fundamental para alcançar o objetivo da companhia de, até 2038 comparativamente com 2021, reduzir em 50% as emissões de CO2 de seus produtos e processos na América do Sul.
Eletrificação
Apesar de divulgar que 20% de seus carros vendidos no Brasil deverão ser 100% elétricos até a virada desta década a aposta maior da Stellantis no País é pelos híbridos flex, confirma Cappellano: “É uma forma inteligente e acessível de reduzir emissões aproveitando o etanol que está amplamente disponível”.
No ano passado a Stellantis tinha anunciado que os primeiros veículos construídos sobre as plataformas Bio-Hybrid seriam produzidos, até o fim de 2024, na fábrica de Goiana, onde atualmente são fabricados três SUVs Jeep – Renegade, Compass e Commander – e as picapes Fiat Toro e Ram Rampage. Mas na conversa com jornalistas na segunda-feira Cappellano desconversou: “Confirmo que o primeiro produto BioHybrid será lançado ainda este ano, mas ainda não sabemos se será feito em Pernambuco. Isto foi dito na gestão passada”, disse em tom de brincadeira.
Já existem rumores de que a escalada dos híbridos flex da Stellantis mudou de endereço e que começará por Betim, onde é produzida a linha Fiat.
O executivo também não escondeu que existe a opção de fazer um híbrido com motor 100% a etanol: “Isto está pronto, está na prateleira, e assim que houver demanda podemos produzir em questão de meses”.
O problema é justamente este, a falta de demanda: “Segundo estudos que fizemos no momento há poucos clientes pessoas físicas que queiram comprar um carro híbrido sem que ele possa fazer a escolha do combustível mais vantajoso, etanol ou gasolina, que o sistema flex permite. Mas algumas empresas poderão procurar por esta solução para cumprir metas de descarbonização. Podemos começar por aí”.
Os motores turbo que serão feitos em Betim também servirão para equipar os novos modelos híbridos da Stellantis. Já para a parte elétrica do sistema, que envolve motor elétrico e bateria de alta voltagem, é mais difícil encontrar fornecedores locais.
Cappellano ponderou: “Queremos localizar, mas antes de 2032 não vemos demanda que justifique investir bilhões de dólares em uma fábrica de baterias no Brasil, mesmo que fosse para atender a todos os fabricantes”.