Quatro cenários trazem perspectiva de redução de CO2 a partir de combinação de eletrificação com maior aplicação de biocombustíveis
São Paulo – Os caminhos e condições foram estabelecidos: estudo em parceria da Anfavea com o BCG, Boston Consulting Group, apresentou um panorama do processo de descarbonização do setor brasileiro de transporte, com desafios e direcionamentos para toda a cadeia da mobilidade, incluindo governo, produtores de biocombustíveis e fornecedores de carregadores de elétricos.
Apresentado por Masao Ukon, diretor executivo do BCG, o estudo desenha quatro cenários que combinam dois vetores: eletrificação e biocombustíveis. O primeiro é a transição gradual para a eletrificação que, segundo Moraes, é o que a indústria segue no momento. Nele, em 2040, os eletrificados representariam 35% da frota circulante de veículos leves e 15% da de pesados. Depois vem o cenário de transição mais acelerada, com maior incorporação de eletrificados na frota. Neste caso nos leves pularia para 42% e nos pesados para 19%
A eles, em paralelo, haveria um aumento gradual de aplicação de biocombustíveis, com ampliação da mistura de etanol dos atuais 27,5% para 30% de gasolina em 2040, de 14% para 21% de biodiesel no diesel e de 0% para 3% do biometano no GNV, ou mais acelerado, 35% de etanol na gasolina, 25% de biodiesel no diesel e 10% de biometano no GNV.
Dentre todos estes cenários varia de aumento de 5% a redução de 8% na quantidade de CO2 emitido pela frota brasileira, incluídos veículos leves e pesados, tendo como base a medição do poço à roda.
“Como a frota crescerá aumentará também a emissão de CO2”, disse Henry Joseph Jr, diretor de sustentabilidade e de parcerias estratégicas e institucionais da Anfavea. “Mas com a introdução de tecnologias de forma mais acelerada, combinada com o maior uso de biocombustíveis, podemos evitar a emissão de mais de 280 milhões de toneladas até 2040.”
Este aumento de eletrificados na rota traz reflexões para a indústria automotiva e para toda a cadeia de mobilidade. Pelas contas da Anfavea em 2040, no cenário de crescimento gradual, a venda de elétricos leves, BEVs e PHEVs, saltaria para 1,8 milhão de unidades, ou 44% das vendas totais. No de transição mais acelerada 2,4 milhão de unidades, ou 61% do total. Em pesados seriam 45 mil, ou 23%, a 57 mil, ou 29%.
“Não seria um mercado abastecido apenas por importados. Este volume provocaria um colapso na balança comercial brasileira”, afirmou o vice-presidente Moraes. “Então é preciso investimento no parque industrial das montadoras e acompanhamento dos fornecedores, além do desenvolvimento de uma indústria de células de baterias no médio a longo prazo”.
Mais do que isso é preciso que toda a cadeia acompanhe, dos produtores de etanol às companhias elétricas. Para que 90% do mercado brasileiro seja de eletrificados em 2040 a demanda por energia subiria 50 mil GWh por ano, ou 8% do que os brasileiros consomem atualmente. Para que se eleve a mistura do etanol na gasolina seriam necessários mais 15 bilhões de litros de etanol, ou 40% da produção atual. De biodiesel mais 9 bilhões de litros, ou 60% da capacidade atual.
“O avanço está condicionado ao desenvolvimento de um ecossistema que envolve base de fornecedores, infraestrutura de recarga e biocombustíveis, podendo significar investimentos significativos até 2040.”
Moraes afirmou também que seria possível evitar mais emissão de CO2 com um programa de renovação de frota aliado à inspeção veicular obrigatória: mais do que introduzir modelos menos poluentes é preciso tirar de circulação aqueles que poluem muito mais.
O estudo foi entregue ao governo no começo do mês e será apresentado na semana que vem a representantes de todos os ministérios envolvidos, para que o governo conheça as demandas para a descarbonização do transporte. O estudo completo está disponível no site da Anfavea.