Taxa para financiamento de veículos chega a 29,5%, mesmo com baixa inadimplência. Não fosse ela, o mercado poderia retornar aos 3 milhões de unidades em 2025, segundo o presidente Márcio de Lima Leite.
São Paulo – Diante da escalada da taxa básica de juros, que na próxima reunião do Copom, em março, deverá subir mais 1 ponto porcentual, o custo do crédito de veículos alcançou sua máxima recente, segundo a Anfavea: em janeiro a taxa para financiamento de veículos chegou a 29,5% ao ano.
O sinal de alerta foi ligado na entidade, pois o crédito é importante combustível para as vendas do setor:
“No passado a relação de emplacamentos de veículos era de 70% a 30%, sendo 70% comprado a prazo e 30% à vista”, afirmou o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite. “Após a pandemia essa tendência chegou a inverter e, no ano passado, encerrou com 55% à vista e 45% a prazo, indicando um retorno à normalidade. Mas com este custo a indicação é de nova queda no volume de financiamentos”.
Pesam a favor da demanda por veículos, que fechou o bimestre com crescimento de 9% sobre igual período do ano passado, as condições do País, com baixo nível de desemprego e crescimento da massa salarial, apesar da inflação ainda fora do controle, disse o presidente. E, segundo ele, a demanda reprimida por veículos, pois o mercado registrou níveis baixos de vendas nos últimos anos.
Lima Leite disse, também, que a inadimplência está na casa dos 4%, o que não justifica juros tão elevados: “Esperamos que o marco das garantias, aprovado recentemente e que facilita a retomada do bem no caso de inadimplência, ajude a reduzir o spread bancário, porque pelo que conversamos com os bancos ele ainda não foi inteiramente contemplado. Aí quem sabe a taxa de juros para o setor dê uma retraída”.
De toda forma, afirmou o presidente da Anfavea, toda essa situação negativa no crédito estava prevista nas projeções para o desempenho da indústria divulgadas no fim do ano passado: “Dissemos, à época, que se não fosse a escalada da taxa Selic o mercado poderia retornar às 3 milhões de unidades em 2025, um marco importante para a indústria. Não chegará a este patamar, mas o mercado e o Brasil continuarão crescendo. Poderia ser mais…”
Chineses na América Latina
Outro ponto de atenção levantado pela Anfavea na entrevista coletiva à imprensa para divulgação dos resultados do primeiro bimestre, na sexta-feira, 14, foi o crescimento da participação de veículos chineses em mercados da América Latina e a perda de espaço do veículo brasileiro na região.
Em 2013, segundo levantamento da Penta Transactions considerando Argentina, Chile, Uruguai, Colômbia, México e Peru, os veículos chineses responderam por 4,6% das vendas na região e os brasileiros por 22,5%. No ano passado os chineses representaram 27,9% das vendas e os brasileiros 13,9%.
“Não são só vendidos tipicamente chineses, de marcas de origem da China: as próprias montadoras com fábrica na região estão trazendo mais veículos chineses. É efeito da perda de competitividade.”
Como solução Lima Leite indicou que o Brasil precisa acelerar as discussões para acordos comerciais bilaterais e das questões regulatórias: “Por vezes a demora para homologar um veículo produzido aqui em países vizinhos demora de seis a oito meses. Precisamos ter regras mais parecidas”.
Ele reconheceu que durante sua gestão, que se encerra no mês que vem, o assunto poderia ter avançado mais. E previu mais dificuldades: “Agora estamos com a questão da eletrificação, que está chegando nesses mercados. Mas nós ainda estamos evoluindo na produção dos híbridos e não fazemos carros elétricos. Os investimentos anunciados levarão algum tempo para se materializar para que possamos competir também com as novas tecnologias”.
Por esta razão, também, a Anfavea segue conversando com o governo para antecipar o retorno dos 35% de imposto de importação sobre veículos eletrificados, previsto apenas para 2026: “Enquanto outros países estão subindo barreiras, elevando tarifas, seguimos com a menor tarifa dentre os principais mercados e desprotegidos. Estamos deixando de gerar empregos aqui para criá-los em outros países”.