As transformações que ocorreram na economia brasileira no início da década de 1990 e que definiram um novo modelo de industrialização no País, sobretudo na indústria automotiva, não foram um fenômeno local. Todo um contexto macroeconômico global, que teve início uma década antes em países desenvolvidos, influenciou o que hoje é chamado de neoliberalismo moderno.
Ronald Reagan, nos Estados Unidos, e Margaret Thatcher, na Inglaterra, deram os primeiros passos no início dos anos 1980, reduzindo a presença e o intervencionismo do Estado, abrindo assim o caminho para políticas neoliberais.
Mas no fim daquela década, em 1989, o encontro do Institute for International Economics, que traçou ali o que ficou conhecido como o Consenso de Washington, estipulou que também os países em desenvolvimento deveriam promover ampla liberalização financeira e comercial das suas economias, derrubando barreiras aduaneiras e reduzindo fortemente a participação do Estado, incentivando as privatizações e o investimento estrangeiro direto, dentre outras medidas.
Naquele momento a estagnação industrial brasileira era evidente. Foram muitas décadas de confortável protecionismo estatal a quem produzia no País, que no caso do setor automotivo era representado, historicamente desde os anos 1950, pelo fechamento parcial das importações de veículos e de autopeças, seguido pela proibição total a partir de 1976, e pela abertura total em 1990, mas a indústria seguiu protegida, em um primeiro momento, por um imposto de importação de 85% naquele ano. Aliado a isto o baixo investimento estrangeiro transformara o Brasil em uma ilha de produtos e meios de produção defasados, enquanto no resto do mundo a globalização começava abrir portas para o comércio internacional mais intenso.
A indústria automotiva nacional se encontrava no ápice deste momento de estagnação após 33 anos da criação e desenvolvimento de toda uma cadeia industrial que trouxe ao País uma série de fabricantes multinacionais de automóveis, caminhões e ônibus. E de tratores. Economistas e historiadores dizem que, naquela época, a indústria estava “deitada em berço esplêndido” com a reserva de mercado. Não havia competição externa, tampouco investimentos em desenvolvimento, apenas adequação de produtos às necessidades tupiniquins. As quatro grandes, Ford, General Motors, Volkswagen e Fiat reinavam com domínio superior a 90% das vendas de modelos leves no mercado brasileiro.
Gente como os economistas Antônio Kandir e Ibrahin Eris, dentre outros, pensadores econômicos neoliberais do novo governo de Fernando Collor que se instalava, inspirados em alguns conceitos do Consenso de Washington, elaboraram uma estratégia exótica para controlar a inflação desmonetizando a economia, realizando um forte ajuste de gastos do Estado – o que não ocorreu –, a liberação do câmbio e várias outras medidas para promover a gradual abertura da economia brasileira.
Em 16 de março de 1990 o Plano Brasil Novo, mais conhecido como Plano Collor, pegou muita gente de surpresa, sobretudo correntistas que tiveram suas contas confiscadas, e também a indústria automotiva nacional, pois na sequência da frase do presidente Collor de que os carros feitos no País eram carroças”, deu-se a abertura para a importações de veículos e o início de uma competição mais acirrada no mercado, por meio de reduções escalonadas da tarifa.
DAS CÂMARAS AO CARRO POPULAR
Esta reportagem foi publicada na edição 423 da revista AutoData, de Julho de 2025. Para ler ela completa clique aqui.
Foto: Divulgação/VW