São Paulo — As montadoras de veículos que operam no Brasil fizeram um ajuste fino no cálculo de perdas no faturamento projetado para o ano. Segundo Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, deixarão de entrar no caixa das empresas R$ 64 bilhões por causa das paradas, isolamento social e a pandemia, algo próximo do valor que já era esperado pela entidade no decorrer dos primeiros meses da pandemia, quando se projetou perda de R$ 60 bilhões a R$ 80 bilhões.
O cálculo leva em consideração perdas que ocorrem no mercado interno e com o processo exportador, na comparação com a receita estimada, cerca de R$ 200 bilhões. Ele desconsidera, no entanto, as despesas das montadoras. O valor deverá ser divulgado em outubro pela entidade, para quando está programada a revisão das suas projeções.
"Apesar do clima de incerteza em torno daquilo que, afinal, é o mercado hoje, passados os primeiros meses agudos da pandemia, com fechamento das fábricas e dos distribuidores, é possível delinear com um pouco mais de segurança a real demanda por veículos. Deixaram de entrar nas montadoras este ano R$ 64 bilhões, algo que reflete também em toda a cadeia."
A Anfavea ainda não divulgou o faturamento líquido do setor em 2019, o que acontecerá no fim do ano, mas a tendência é a de que o de 2020 — que deverá ser publicado pela entidade em seu anuário no ano que vem — aponte interrupção de crescimento de receita que vinha sendo registrado desde 2016, mesmo com o dólar valorizado frente ao real.
À época, período de retomada da forte crise do setor baseado nas exportações, o setor faturou US$ 47 bilhões. O valor aumentou para US$ 59,2 bilhões no ano seguinte, em 2017. Em 2018, último dado fornecido pela Anfavea, o faturamento das montadoras somou US$ 61,8 bilhões.
Diante do quadro de queda na receita as montadoras, então, passaram a buscar meios de manter o fluxo de caixa e mecanismos de redução de custos, este especificamente sendo executado de forma mais veemente no segundo semestre com as fabricantes articulando formas de ajuste de produção com o anúncio de PDVs e demissões.
Mesmo com o mercado interno apresentando sinais positivos a partir de julho, como efeito do represamento dos emplacamentos ocorridos em abril e maio, a indústria automotiva se mostra cada vez mais cética com relação ao retorno substancial no pós-pandemia a ponto de o mercado apresentar, no curto-prazo, nível de vendas similar àqueles registrados até março, quando eclodiu a crise pandêmica.
Mostras disso são os discursos recorrentes de que é preciso fortalecer as exportações. Na semana passada o próprio presidente da Anfavea afirmou que um dos principais pleitos do setor automotivo é a volta do Reintegra, antiga política de fomento à exportação de veículos e outros produtos. Roberto Cortes, presidente da Volkswagen Caminhões e Ônibus, também deu voz ao discurso ao afirmar que sua empresa pretende depender menos do mercado interno.
"Este é um outro desafio ao setor, se a gente considerar que a demanda global por veículos vinha diminuindo antes mesmo da pandemia", contou Moraes, o presidente da Anfavea. "Não apenas teremos de buscar novos mercados neste cenário: teremos, também, de eliminar as deficiências estruturais do País, tanto logísticas quanto fiscais."
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