São Paulo — A pandemia diminuiu o volume de lucros e dividendos enviados pelas empresas do setor automotivo instaladas aqui às suas casas matrizes. No ano passado, segundo dados do Banco Central, foram remetidos US$ 455 milhões pelas unidades brasileiras, considerando montadoras de veículos e seus fornecedores. O resultado representou queda de 20% ante as remessas realizadas em 2019.
De acordo com o consultor Osmair Garcia a queda nos rendimentos está atrelada diretamente à queda no mercado gerada pela crise pandêmica: "A covid produziu reflexos nas remessas, sem dúvida. Por outro lado algumas empresas conseguíram diminuir suas perdas no período, revertendo um resultado financeiro que poderia ter sido maior", destrinchou Garcia, citando companhias que passaram a exportar mais ao longo da pandemia.
Em 2020 foram enviados a outros mercados 324,3 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus produzidos no Brasil, de acordo com dados divulgados pela Anfavea, volume 24,3% inferior ao de 2019. Apesar do resultado houve perfil de crescimento do indicador a partir do segundo semestre, com as companhias buscando mercados alternativos ao interno.
Para Paulo Cardamone, da consultoria Bright, o resultado representa a manutenção de um quadro que já vinha sendo apresentado desde 2014, com o agravamento da crise que afetou o setor automotivo brasileiro: "De lá para cá se exportou menos e a tendência, agora, é de uma recuperação mais lenta porque não sabemos como e quando o mercado interno reagirá".
A injeção de recursos nas unidades brasileiras para fortalecer o caixa na situação financeira desafiadora se manteve no mesmo nível de 2019. Os dados do BC indicam a realização de empréstimos intercompany da ordem de US$ 8,7 bilhões, valor praticamente similar àquele aferido em 2019, US$ 8,8 bilhões.
Osmair Garcia, que já foi diretor financeiro da Volkswagen, contou que os recursos geralmente são aplicados para melhorar o fluxo de caixa, para pagamento de fornecedores e para a aquisição de matéria-prima, em casos mais extremos.
A Anfavea, à época, considerava um cenário de torneiras fechadas, ou seja, com as matrizes concentrando seus esforços financeiros no socorro às suas operações nos países de origem. Apesar disso, conforme mostram os números do Banco Central, as companhias conseguiram manter o fluxo financeiro até as subsidiárias brasileiras, que demandavam naquele momento recursos para custear a operação local.
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