São Paulo – Nas duas últimas décadas o comércio exterior do Brasil não apresentou crescimento expressivo mas, se comparados separadamente os anos de 2001 e 2020, houve grande diferença na composição das pautas do setor automotivo: a participação dos veículos nas exportações foi de US$ 3,3 bilhões para US$ 5,5 bilhões, ao passo que as importações de peças triplicaram, saltando de US$ 2,1 bilhões para US$ 6,6 bilhões.
No mesmo período as compras de veículos vindos de outros destinos também aceleraram e quase dobraram, de US$ 2,4 bilhões para US$ 4,4 bilhões. Já as vendas de peças a outros países cresceram, mas em menor proporção, de US$ 1,9 bilhão para US$ 2,4 bilhões. Os dados foram apresentados durante o primeiro dia do 3º Congresso Latino-Americano de Negócios da Indústria Automotiva, realizado de forma online pela AutoData Editora, pelo gerente de políticas de integração internacional da CNI, Fabrizio Sardelli Panzini.
Panzini destacou que o fim dos anos 1990 coincidiu com a grande crise internacional e com maior priorização de políticas industriais dos países, que também elevaram suas barreiras comerciais, o que levou a balança comercial brasileira a ficar mais deficitária, à exceção de 2016 e 2017, mas depois voltou a ter queda.
Além desse movimento, em que as importações têm superado as exportações no setor, o especialista acredita que é preciso prestar atenção ao volume de transações do setor automotivo: “Em 2013, o comércio exterior somava US$ 41 bilhões. Em 2019 US$ 27 bilhões. São pelo menos US$ 14 bilhões a menos, sem levar em conta o aumento de preços nesse período. O Brasil sofreu grande contração. Perdeu espaço para outros países que focaram mais na política industrial e que consideraram esse setor como estratégico, além de que o custo Brasil piorou e a América Latina tem crescido pouco, a exemplo do nosso País e da Argentina. E isso afeta, pois somos mais dependentes da região para crescer”.
O gerente da CNI pontuou que também interfere o fato de o comércio exterior brasileiro ser amplamente coberto por acordos comerciais nas exportações, que respondem por quase 80% de tudo o que o País vende. Nas importações, porém, o peso cai para 40%: “Grande parte do que se compra de outros países está fora de acordos, como os celebrados com a União Europeia e com nações asiáticas, e provavelmente está ligado a partes e peças, onde está o grande déficit do setor”.
Ao longo desse período o peso do Mercosul como destino de automóveis produzidos aqui aumentou significativamente, de 18% para 41,4%, ainda que tenha recuado nos últimos anos — foi 54% em 2015. Os Estados Unidos, de 22%, caíram para 6,5%. Já quando se analisa o peso do bloco para as importações passou de 36,2% para 25,8%, mesmo porcentual que a União Europeia. Destaque para a China, que saltou de 0,1% para 9,9% como um dos maiores supridores do mercado brasileiro.
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