São Paulo – A crise dos semicondutores desencadeada pela pandemia do novo coronavírus tem afetado diretamente a disponibilidade de veículos 0 KM para o consumidor final. O estoque, que segundo dados da Anfavea em julho atingira, até então, o menor nível da história, com volume suficiente para atender à demanda por quinze dias, neste mês sofreu novo revés e foi a onze dias.
Foi o que informou o vice-presidente da Fenabrave, José Maurício Andreta Júnior, durante o segundo dia do 3º Congresso Latino-Americano de Negócios da Indústria Automotiva, realizado de forma online pela AutoData Editora.
O empresário contextualizou que, apesar do baixo estoque, hoje existe demanda reprimida de carros e que, somente diante de maior disponibilidade de veículos a situação mudará: “Se houvesse oferta de produtos já estaríamos em um novo patamar, mas isso dependerá da produção, que é incerta. E não são só os semicondutores: se faltar um parafuso você não monta o carro. Mas um novo prognóstico só teremos diante de um abastecimento regular”.
Para Andreta o ideal, em um cenário sem covid e mais próximo da normalidade, seriam trinta dias de estoque. Ele pondera que o problema não está somente no volume de veículos, mas também na diversidade: “Não adianta ter trinta dias com um modelo só. Precisamos ter ampla gama de produtos, financiamento adequado. Os bancos estão querendo emprestar dinheiro com taxa ainda atrativa, e aí sim o mercado será retomado”.
Novos desafios — Enquanto isso as concessionárias adaptam-se como podem para manter equipe e custos dentro de operação que era acostumada a vender cem carros e, hoje, comercializa vinte. O vice-presidente da Fenabrave comparou o cenário ao de uma fábrica ociosa: “O novo normal acabou antecipando um futuro que nos daria o que, hoje, chamamos de um novo propósito para as concessionárias”.
Andreta afirmou que esse futuro das concessionárias passa pelo fortalecimento do ambiente digital, pela tendência de consolidação de grupos de concessionárias e por novos canais de serviços de mobilidade:
“Tudo é negócio. Nós não somente vendemos carro e prestamos assistência técnica. Estamos abertos a fazer de tudo. Locação, venda por assinatura. E não somos só concessionários, somos comerciantes. Tudo o que surgir a rede de concessionárias terá de se adaptar se quiser sobreviver pelos próximos trinta anos. Será preciso prestar serviço com cada vez mais qualidade e rapidez. Muitos não se adaptarão e serão agregados por grupos maiores, que tenham mais escala, com custos mais competitivos e mais opções para o consumidor”.
E, com a tendência dos veículos elétricos, o executivo disse acreditar em que a demanda deva aumentar, com maior necessidade de assistência do que modelos movidos à combustão: “Não existe indústria automotiva sem o concessionário, pois trata-se do elo que atuará cada vez mais e se adaptará. Terá que ser mais eficiente, melhor conduzido e sempre com o foco na satisfação do cliente em atender e suprir necessidades”.
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