São Paulo – Os desafios para o segmento de veículos pesados na América Latina lançados para o segundo semestre e para o ano de 2022 vão além da crise dos semicondutores provocada pela pandemia. Mudanças no cenário político e seus desdobramentos econômicos, variação cambial e problemas com logística somam-se à lista. E é preciso driblá-la para ampliar o mercado da região, hoje estimado em 100 mil unidades/ano, sendo Chile, Colômbia e Peru responsáveis por metade delas, e com mais de trinta marcas na disputa.
Foi o que apontou o diretor geral do centro regional Daimler América Latina, Jens Burger, durante apresentação no terceiro dia do 3º Congresso Latino-Americano de Negócios da Indústria Automotiva, realizado de forma online pela AutoData Editora.
Burger mencionou que o custo do produto brasileiro ainda é um ponto de atenção. Ele estimou que, na média, custa de 10% a 15% mais caro do que um veículo vindo da Índia, por exemplo: “Uma das lições de casa que temos de fazer são os tratados de comércio. Muitas vezes o produto brasileiro exportado não é barato devido aos custos do País. Aumentamos em seis vezes o volume de vendas no Brasil por uma questão de foco, mas também ajudados pelo real mais fraco. Se formos para um real de R$ 4, R$ 3,50 diante do dólar começaremos a ter dificuldade de competir”.
O executivo contou que no Equador, por exemplo, um mercado de 8 mil unidades/ano, há extrema dificuldade de homologação do produto: “Demora-se seis meses, gasta-se uma fortuna, com produto Euro 3 ou Euro 5, que atende a normas globais mas tem entrada dificultada. Reza a lenda que se trata de disputa em torno das bananas. O Chile, embora seja extremamente liberal, com baixas tarifas de importação, exige mais do Brasil do que da Europa. Pede certificado de origem com 60% de conteúdo nacional. Já da Alemanha não precisa. Temos o trabalho de abrir um pouco mais as portas”.
Mas existem alguns outros percalços para conquistar mais espaço em cenário de demanda aquecida por caminhões, que após a queda ao longo do ano passado agora crescem acima da média dos anos anteriores, de 5% a 10% dependendo do mercado, puxado pela valorização de até 50% nas commodities, caso de minérios e petróleo:
“Temos algumas nuvens no céu, incertezas trazidas pelo ambiente político, com eleições próximas no Chile com tendência à esquerda e aumento dos royalties cobrados por extração de minério, muita agitação social na Colômbia em torno de reforma tributária e um Peru com vitória da esquerda e anúncios que desagradam ao mercado. A logística também tem afetado nossas unidades de produção. Vivemos momento de falta de contêineres e de aumento nos custos, e está difícil conseguir espaço nos navios para colocar os veículos”.
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