São Paulo – “A eletrificação é uma força inexorável, que não será detida. E vai acontecer ainda mais rápido do que esperávamos.” Esta frase foi proferida pelo presidente da GM América do Sul, Carlos Zarlenga, durante o último dia do 3º Congresso Latino-Americano de Negócios da Indústria Automotiva, realizado de forma online pela AutoData Editora. O executivo advertiu, contudo, que hoje o Brasil não está no mapa dessa tendência e que, para reverter o quadro, o caminho é investir nos centros tecnológicos das fabricantes locais.
Segundo Zarlenga essa pode ser a chave para inserir o País na rota eletrificada porque já existe, hoje, um bom ecossistema instalado, tanto de montadoras como de fornecedores, e com custos mais baixos. Ele observou que desenvolver um projeto aqui, com engenheiros locais, mesmo que seja para uma plataforma global, é mais barato, chegando à metade do preço de outras localidades. Isso sem considerar incentivos fiscais, que deveriam ter maior foco para desenvolver esses centros tecnológicos.
Para ele o País poderia começar pela tecnologia e engenharia e, depois, ganhar escala e se tornar um hub de exportação. Agregaria o fato de países da América do Sul produzirem insumos para a produção de baterias, o que, pela proximidade, deveria trazer oportunidade à cadeia de suprimento agregada.
A projeção mundial é a de que, em 2030, de 25% a 30% dos veículos novos serão elétricos, ou seja, dez vezes mais do que hoje, com 3%. Zarlenga, porém, disse que ano a ano essa perspectiva avança, uma vez que a ONU endossa o risco do aquecimento global e é grande a aceleração dos investimentos, com lançamentos de produtos, para promover a transição. Essa tendência é liderada por três atores, China, Estados Unidos e Europa, que deterão quase a metade dessa indústria em uma década.
Quanto aos países emergentes, caso da América do Sul, essa penetração varia de 5% a 10%. No Brasil, de 4% a 7%, “pois estamos quatro vezes abaixo da projeção média global e seis vezes atrás dos lugares em que há maior participação nos elétricos”.
Diante do cenário o executivo questionou: “Quem fará algum projeto no País hoje, com essa projeção? Quem investirá em uma linha de produção para elétricos? Trata-se de uma profecia auto cumprida. Projeta-se pouco e investe-se pouco”.
Ocorre que, Zarlenga discorreu, na última década as multinacionais enfrentaram dificuldades em países latinos devido às instabilidades da economia e da política, o que elevou o risco do investimento, que neste setor costuma trabalhar com previsibilidade em horizonte de até dez anos. No caso do Brasil, se até 2010 o investimento era baixo, com alta barreira de entrada e ambiente lucrativo, na década posterior o que se viu foi aporte em plataforma global, com redução da localização e incremento do custo. E se somou a isso recessão econômica e pandemia de covid.
A capacidade instalada da indústria automotiva brasileira, uma das maiores do mundo, é de cerca de 5 milhões de unidades produzaidas/ano, que em 2021 deve atingir 2,5 milhões, chegando a 3 milhões em 2023: “Não podemos perder isso na troca de tecnologia, senão nos tornaremos importadores.”
A pergunta que fica é: “Convergiremos nos investimentos ou ficaremos para trás? O futuro a partir de 2021 conta com muitos aportes no desenvolvimento dos elétricos, mas fora da nossa região. Ou aceleramos a eletrificação ou ficaremos com portfólio velho. A aposta em híbridos e etanol está na contramão da tendência global. Até podemos adorar a prática de ser o último do mundo a fornecer produtos a combustão, mas considero esse um caminho arriscado”.
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