São Paulo — Descarbonização das emissões de veículos é o assunto do momento da indústria automotiva global que foi escolhido para ser tema central do Simea 2022, Simpósio Internacional de Engenharia Automotiva, promovido pela Associação Brasileira de Engenharia Automotiva, AEA, em 18 e 19 de agosto no Expo Center Norte, em São Paulo.
Os organizadores do evento esperam receber perto de 1 mil profissionais da indústria que poderão assistir a dois dias de debates e palestras sobre a contribuição da cadeia automotiva na descarbonização, além de visitar a mostra de tecnologias apresentadas por nove expositores. Também estão agendadas quarenta seções técnicas para apresentações de trabalhos técnicos de engenharia, selecionados pela AEA, sobre temas como produção de veículos, matérias-primas, motores, eletrônica veicular, emissões etc.
Renato Faria, coordenador do Simea este ano, afirma que o tema escolhido está em cima da mesa de todos os profissionais da indústria automotiva no mundo inteiro: “Precisamos discutir como esta cadeia produtiva no Brasil vai se posicionar diante da evolução global do setor em busca da redução de sua pegada de carbono”.
Pela importância estratégica da questão para o País, que necessariamente passa pela negociação de políticas de Estado, Margarete Gandini foi escolhida presidente de honra do 29º Simea, pois ela é a principal interlocutora do governo nas discussões com a indústria. Ela participou ativamente da formulação e auditoria dos principais programas governamentais desenhados para incentivar e regular o setor automotivo nacional, como o Inovar-Auto, que vigorou no período 2012-2017, e o sucessor Rota 2030. Atualmente Margarete Gandini ocupa a posição de coordenadora geral de Implementação e Fiscalização de Regimes Automotivos da Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, partição do Ministério da Economia que absorveu o antigo Ministério do Desenvolvimento.
Caminhos possíveis – Faria afirma que as palestras e os painéis do Simea deverão consolidar uma visão sobre a estratégia nacional de descarbonização, para fomentar a evolução tecnológica da indústria automotiva no contexto da realidade brasileira: “Enxergo as parcerias como único caminho possível para juntar os desejos do governo, da indústria e dos consumidores. De nada adianta desenvolver aqui a melhor tecnologia disponível se nem os veículos tradicionais a combustão cabem no bolso, se não há crédito para financiar a evolução”.
Nesse sentido o Simea convidou para os debates integrantes do governo, de institutos e da indústria, incluindo empresas e suas associações, como Anfavea e Sindipeças, bem como da Acea, a associação dos construtores europeus de veículos. Também haverá palestras de representantes da Unica, União da Indústria da Cana, Petrobras, Ambev – que vai contar como tem sido na prática a utilização de caminhões elétricos no Brasil – e do Instituto Mauá de Tecnologia, que abordará o estágio das pesquisas com células de hidrogênio extraído do etanol para o carregamento de veículos elétricos.
O coordenador do Simea, que é chefe de marketing e vendas da área automotiva da Bosch América Latina, avalia que o caminho da descarbonização no Brasil não deve passar pelas mesmas políticas traçadas nos Estados Unidos, na China ou na Europa, onde a eletrificação dos veículos é, até agora, apresentada como única alternativa aos motores a combustão. “Aqui os carros elétricos não passam de um pequeno nicho de mercado: não temos infraestrutura nem incentivos”.
“No Brasil mais de 50% da matriz energética é de fontes renováveis, temos outra vocação. A escala de eletrificação, aqui, será combinada com etanol, com modelos híbridos flex, porque temos o biocombustível disponível e porque a engenharia nacional domina a tecnologia desde os anos 1970 com o Proálcool”.
Renato Faria, coordenador do Simea 2022
Faria observa que os debates do Simea deverão mostrar como os veículos eletrificados, puros ou híbridos, evoluirão no País, e aprofundar a discussão de como a engenharia brasileira poderá contribuir globalmente com os objetivos de descarbonização do setor: “Poderemos exportar nosso conhecimento em biocombustíveis para países como a Índia, por exemplo, que já mantém conversas com governo e empresas no Brasil. Além do etanol ainda podemos evoluir muito com biometano e, mais adiante, com o hidrogênio”.
Para o executivo o Simea deste ano será o fórum ideal para “provocar o governo e a indústria a discutir políticas de desenvolvimento do setor para atender a maior parte da população, não apenas as classes A e B com tecnologias caras demais”.