São Paulo – Para o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, o movimento da Mercedes-Benz que provocará o corte de 3,6 mil trabalhadores em São Bernardo do Campo, SP, é algo particular que não deve ser encarado como tendência no setor automotivo. A companhia decidiu terceirizar atividades como logística, manutenção, fabricação e montagem de eixos dianteiros e da transmissão média, ferramentaria e laboratórios, hoje feitas internamente. O setor, segundo ele, já opera de forma semelhante à buscada pela Mercedes-Benz:
“Não vejo como tendência até porque as outras montadoras são mais recentes no País e se fixaram por aqui utilizando a indústria de componentes já instalada”.
A indústria automobilística, citou, nasceu extremamente verticalizada. “Neste momento, a Mercedes-Benz está realizando a revisão de seu modelo estratégico. Em montadoras mais recentes se vê um parque de fornecedores muito grande. Já uma fábrica com mais tempo no País acaba fazendo muita coisa dentro de casa”.
Leite lembrou que a Mercedes-Benz foi uma das primeiras fabricantes a se estabelecer no Brasil e no Grande ABC, em 1956, como a primeira unidade fora da Alemanha, e que é uma das empresas mais verticalizadas do segmento. Ele acrescentou que não chamaria esse processo de terceirização:
“É um conceito de desverticalização, em que a empresa passa a contar mais com o parque de fornecedores e acaba tendo melhores condições, principalmente quando há oscilações na produção, e obtém um custo menor de estocagem. E a desverticalização, sim, é tendência há vinte anos”.
O dirigente também descartou a ideia de que a medida da Mercedes-Benz reflita algum descompasso da capacidade de produção no País com o tamanho do mercado. Ele observou que está sendo feita apenas uma adaptação em razão do modelo de negócios, e que para tornar viável um fornecedor é preciso oferecer volume e ter um caso que se pague, o que é viável pelo fato de o mercado estar crescendo e ter boas perspectivas pela frente: em agosto os mercados de caminhões e ônibus começaram a reagir.
“A montadora tem uma história de extremo sucesso no Brasil. Não há discussão sobre sua posição nem acerca da importância dessa empresa para os mercados brasileiro e mundial. Ela não tem nenhum tipo de instabilidade, sempre manteve ótimo padrão de desempenho.”
Reação – Como forma de protesto ao anúncio dos cortes, sendo que 2,2 mil empregados poderão ser desligados sob a forma de PDV, programa de demissão voluntária, e outros 1,4 mil temporários não terão seus contratos renovados no fim do ano, a fábrica ficou paralisada de quinta-feira, 8, à tarde, a sábado, 10, uma vez que as jornadas extras foram suspensas.
Na segunda-feira, 12, no entanto, a planta operou normalmente. O mesmo é esperado para terça-feira, 13, quando será realizada reunião de representantes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC com os da Mercedes-Benz, a fim de que se tenha o início de negociações.