No primeiro semestre as exportações recuaram 28%, somando 165,3 mil veículos, de acordo com a Anfavea
São Paulo – As exportações de veículos brasileiros encolheram 28,3% ao longo do primeiro semestre de 2024, somando 165,3 mil veículos, enquanto que de janeiro a junho do ano passado este volume chegou a 230,4 mil. De acordo com a Anfavea desde 2009 o País não tinha desempenho tão fraco neste período, à exceção de 2020, quando eclodiu a pandemia.
O principal fator que justifica este cenário, na avaliação de Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, é a perda de participação nos principais mercados de exportação brasileiros – que foi conquistada principalmente por países asiáticos. A começar pelo México a fatia do Brasil no total emplacado ali, em dólares, caiu de 8,9% para 5,3%. Sendo que a da China avançou de 33,1% para 37,2%.
No Chile os produtos brasileiros recuaram de 7,4% para 7,2% e os chineses aumentaram de 20,4% para 26,5%. No Uruguai o movimento foi o mesmo: Brasil caiu de 45% para 43% e China cresceu de 11% para 19%. Na Colômbia o market share dos veículos produzidos aqui encolheu de 22,6% para 17%, ao passo que o do México quase dobrou, de 12,4% para 22%. Na Argentina diminuiu de 83,2% para 76,8% ao mesmo tempo em que o México aumentou de 5% para 8,2%.
E não para por aí. No Peru a presença brasileira caiu de 9,7% para 8,3% e a do Japão subiu de 8% para 10,8%. No Paraguai a fatia recuou de 21,7% para 18,4% e a dos Estados Unidos avançou de 6% para 7%.
“Nós temos perda de participação em todos os mercados. E o pior é que no México, por exemplo, as vendas aumentaram 7%, enquanto que nossos embarques diminuíram 3%. Na Colômbia, no Chile e no Peru, em que os emplacamentos encolheram 3%, nossos envios caíram 6%.”
Apenas ao considerar o Mercosul como um todo, que engloba, além do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai – a Bolívia ingressará a partir de julho –, cujo mercado diminuiu 19%, o País ampliou suas vendas em 6%: “O Brasil só cresceu onde o mercado mais caiu”.
O CEO da Volkswagen do Brasil, Ciro Possobom, que participou da entrevista coletiva à imprensa da Anfavea na quinta-feira, 4, ressaltou a necessidade de o País costurar novos acordos comerciais e reforçar os já existentes: “Precisamos de novos acordos com países da região, como Colômbia, Equador, Paraguai e Bolívia, e com outros também, como os da África, a exemplo do Egito, e Oriente Médio.”
Possobom mencionou que no caso do Equador o Brasil é taxado em 28% ao passo que outros países não pagam nada para ingressar com seus produtos, o que poderia ocorrer caso do acordo ACE 59, Acordo de Complementação Econômica, fosse reativado:
“Estamos levando estas demandas ao governo para que ele possa fazer a interlocução. Há coisas que não fazem sentido. E, enquanto isto, perdemos mercado. Em torno de 50% das importações da América do Sul são geradas na Ásia. Como explicar isso? Temos capacidade para tornar o Brasil nação fortemente exportadora de veículos, até porque no passado já embarcamos 700 mil unidades e, hoje, estamos abaixo das 400 mil de 2023”.
Lima Leite reforçou a preocupação ao pontuar que a exportação é fundamental também para atrair investimentos ao País. Ele lembrou que em 2022, quando a indústria nacional exportou 481 mil unidades, o Brasil estava construindo novos acordos comerciais “e, não fosse isto, a produção daquele ano seria muito ruim. Da mesma forma que no primeiro semestre estamos com a produção estagnada pela queda acentuada das exportações e pela entrada desenfreada de importados.”
No mês passado houve reação das vendas a outros países de 8,2% frente a maio, com quase 29 mil unidades, mas o volume ainda ficou 21% aquém ao de junho de 2023. Em valores os US$ 802,5 milhões estão 20% abaixo do mesmo mês no ano passado e 2,4% menores do que as entradas de maio. A queda acumulada no semestre é de 18%, totalizando US$ 4,7 milhões.