Fábrica de Manaus, a segunda da empresa no Brasil, completa 40 anos em momento de crescimento do segmento de duas rodas
São Paulo – O ano é de festa para a Yamaha: a fábrica de Manaus, AM, completa, em 2025, 40 anos. No Brasil a empresa está há um pouquinho mais de tempo, chegou em 1970 e quatro anos depois começou a produzir em Guarulhos, SP, sua primeira unidade produtiva fora do Japão. De lá saiu a RD-50, a primeira motocicleta nacional.
Recentemente a companhia promoveu a reorganização de sua estrutura local ao transferir sua sede, que ainda estava em Guarulhos, para a Capital paulista, em um escritório no bairro Cidade Jardim:
“Não fazia muito sentido continuar lá: estávamos em uma fábrica que não era mais fábrica”, disse Rafael Lourenço, gerente de relações institucionais da Yamaha. “Mas Guarulhos tem um lugar especial no coração da Yamaha”.
A conversa com Lourenço marca o início da seção Agência AD Entrevista, com oferecimento da Stellantis. Todos os meses a Agência AutoData fará entrevistas de segmentos que não estão necessariamente no centro, mas são importantes para a cadeia automotiva. Começamos com o de motocicletas que já vem há anos registrando crescimento consistente.
Acompanhe os principais momentos da conversa com Rafael Lourenço, gerente de relações institucionais da Yamaha.
As vendas de motocicletas chegaram perto de 2 milhões de unidades no ano passado. A Fenabrave e a Abraciclo acreditam que deverão superar este volume pela primeira vez na história em 2025, que, até março, registrou quase 500 mil motocicletas vendidas. O que vem puxando as vendas da indústria?
O mercado vive um momento positivo desde antes da pandemia. Todo mundo caiu durante a pandemia e as vendas de motocicletas continuaram crescendo. E existem alguns fatores que puxam. Um deles é o preço do veículo de quatro rodas: o carro ficou caro no Brasil. Então você adquirir, fazer manutenção, abastecer um carro é caro. A motocicleta é uma alternativa mais econômica, o custo de aquisição é menor, a manutenção e o abastecimento também. Temos outro motivo que é o mercado de delivery no Brasil, e eu acho que por último, e não menos importante, é que a motocicleta caiu no gosto do brasileiro e também das brasileiras. São dados da Abraciclo: quando você pega a última década houve aumento de mais de 60% de emissões de habilitações A por mulheres e para homens na faixa de 30% a 35%. A gente que está aqui, em São Paulo, vê isso no dia a dia.
Quais faixas de mercado estão com melhor desempenho?
Quase 80% do mercado estão naquela faixa de 100 a 250 cm3 de cilindrada. É este segmento que continua crescendo quando a gente fala do mercado de delivery: a grande maioria das motocicletas vendidas para estes profissionais está dentro deste segmento. E tem o de scooters: a motocicleta caiu no gosto brasileiro e o scooter ainda mais. Antigamente você não tinha no Brasil um grande mercado, até culturalmente não fazia parte da cultura do motociclismo brasileiro. Sempre foi uma coisa muito mais da Ásia. Mas de 2015, 2016 pra cá isto vem mudando. Hoje a quantidade de scooters na rua é enorme.
Um dos importantes motores do mercado de motocicletas é o financiamento. Com o aumento da Selic, que já chegou a 14,25%, existe algum risco de desaquecimento nas vendas do segmento? Qual poderá ser o impacto na Yamaha?
Se você pegar o histórico da Selic desde 2022 ela está num patamar acima de 13%, bastante elevado. E apesar deste patamar elevado continuamos vendo o crescimento do mercado de motocicletas. Na prática, então, este aumento não tem afetado as vendas. Claro que estamos olhando para este aumento da Selic com cautela, o mercado é muito dependente do financiamento, mas o fato é que não tem impactado de forma tão significativa o mercado de motocicletas.
Nos últimos anos a falta de chuvas na região de Manaus, onde está instalado o Polo Industrial de duas rodas brasileiro, chegou a afetar a produção. Como a Yamaha fez para contornar, ou minimizar, a situação? O que está planejado para 2025?
Em 2023 a seca foi a pior seca da história, até aquele momento, e pegou todo mundo no Polo Industrial de Manaus meio de surpresa. Algumas empresas pararam a produção. Não foi o caso da Yamaha, mas precisamos mudar as datas de férias coletivas e tivemos dificuldades para entregar o plano de produção. Acabou sendo um ano de aprendizado para todas as empresas do Polo. Mas aí veio 2024 e novamente a pior seca da história, bateu 2023. A diferença é que tínhamos aprendido as lições, não só a Yamaha: acho que todas as empresas do polo ajustaram seus modelos de negócio, consideraram um porcentual maior de transporte aéreo, geriram melhor o estoque, até aumentaram um pouco o nível para poder ter uma blindagem. Os portos de Manaus também aprenderam a lição, criaram estruturas flutuantes e levaram estas estruturas para o ponto do rio até onde o navio chegava. Muitas empresas daquele ponto dos portos flutuantes em diante já fizeram um transbordo, toda a parte alfandegária, parte de desembaraço e dali muitas vezes seguiam ou em balsas ou em rodovias. Em linhas gerais foi isso: arranjos logísticos, aéreos, entrou um modal rodoviário que talvez não houvesse antes, as autoridades também se ajustaram, algum aumento no nível de estoque e nos ajustamos à nova realidade.
Como está a operação industrial da Yamaha em Manaus?
Em 2025 completamos 40 anos na Amazônia, é um ano de festa para nós. Temos uma operação lá muito grande, com capacidade instalada da ordem de 350 mil motocicletas por ano, sem ociosidade: a fábrica está rodando a pleno vapor. São quinze galpões, 125 mil m² de área construída, mais de 4 mil empregos gerados pela Yamaha. É uma operação em momento de crescimento.
Há alguma expansão planejada ou por enquanto trabalhará nesta capacidade?
Por ora trabalharemos nesta capacidade e, dependendo de demandas do mercado, avaliaremos internamente se será necessário expandir.
Nos países vizinhos do Brasil é forte a presença de motocicletas asiáticas, sobretudo das chinesas. Sabemos que a falta de harmonização regulatória é um dos motivos para que o produto brasileiro não seja competitivo na região, pois motos menos seguras e mais poluentes são vendidas em outros mercados, a preços mais baixos por terem menos tecnologia. Como a Yamaha tem feito para conseguir exportar? Quais são os mercados alvo?
O Brasil hoje tem uma das regulações de emissões mais sofisticadas do mundo, alinhada com o Euro 5 da Europa. Mas o mesmo não acontece em alguns países vizinhos e gera dificuldade, porque para estar em conformidade com o Promot 5 foi preciso fazer uma série de investimentos tecnológicos na linha de produção e no produto, que fazem com que a motocicleta fique mais cara. Mais tecnologia embarcada, mais custo. E o fato de os países vizinhos não terem essa obrigatoriedade faz com que as suas motocicletas sejam mais baratas. A solução é exportar para países da Europa, Estados Unidos, Canadá, Oceania.
No ano passado a Yamaha apresentou scooters eletrificadas. Qual é a visão de eletrificação da Yamaha para o segmento de duas rodas? E em que velocidade acha que chegará ao Brasil?
A Yamaha assumiu um compromisso, já há alguns anos, de se tornar carbono neutro até 2050. Então existe uma corrida dentro da companhia para primeiro reduzir, cortar ao máximo as emissões, e quando chegar no limite começar a neutralizá-las. Dentro deste contexto vem a Neo’s, a primeira motocicleta elétrica da Yamaha no mercado brasileiro. Entendemos que a tecnologia elétrica é importantíssima para fazer esta transição para a economia de baixo carbono no segmento de transporte. A Yamaha acredita na eletrificação mas também em outras frentes tecnológicas, como por exemplo os motores de combustão a hidrogênio.
Quais são os planos no curto prazo para a eletrificação no Brasil?
A produção da Neo’s já começou. Temos orgulho de fabricar esta motocicleta no Polo Industrial de Manaus. Lá cumprimos uma série de obrigações com o governo em termos de industrialização, então esta motocicleta precisará ter mais itens nacionalizados conforme for crescendo o volume de vendas. De toda forma a Yamaha acredita no mercado brasileiro em termos de eletrificação e quem ditará a velocidade do desenvolvimento deste mercado é o consumidor.