Mogi das Cruzes, SP – A operação brasileira da Nissan trafega em sentido oposto ao da global. Enquanto a ordem, lá fora, é cortar custos e readequar volumes produtivos, por aqui a perspectiva é crescer a produção em Resende, RJ, e adicionar novos modelos às linhas de montagem. O plano de R$ 2,8 bilhões em investimentos até o fim do ano fiscal de 2026 segue firme e inalterado. Nos próximos dias chega às revendas a nova geração do Kicks e em mais alguns meses o novo SUV, ainda cercado de mistério, deverá entrar em produção.
“Na Nissan enxergamos o Brasil como uma grande oportunidade”, disse Christian Meunier, chairman da Nissan Américas, ao comentar sobre o plano Re:Nissan a um grupo de jornalistas. “O desempenho aqui está bom, no México estamos indo bem e na América do Norte estamos em recuperação. O que precisamos, globalmente, é reduzir os custos, fixos e variáveis, para que a Nissan se adeque ao seu tamanho.”
Na divisão Américas, a maior da Nissan, responsável por 45% das vendas globais, em torno de 1,5 milhão de unidades, e com mais peso em termos de receita, o objetivo é reduzir US$ 1 bilhão em custos fixos e US$ 1 bilhão em variáveis no ano fiscal de 2025, iniciado em março. O encerramento da operação fabril na Argentina, com a transferência da produção da Frontier para o México, e o fechamento do escritório da Nissan no Rio de Janeiro, RJ, são dois exemplos de cortes de custos fixos na América do Sul. Meunier não entrou em pormenores, mas as ações mais robustas deverão ocorrer na América do Norte.
“Precisamos voltar ao básico. Engajar funcionários e concessionários, especialmente nos Estados Unidos. Aguardem os resultados: faremos a Nissan voar.”
No Brasil a expectativa é reduzir custos ganhando escala. Na fábrica de Resende, que produz o Kicks Play e o Kicks, para Brasil, Argentina e Paraguai, quatrocentos trabalhadores estão sendo incorporados para elevar de 24 para 32 veículos por hora a cadência produtiva.
Guy Rodriguez, presidente da Nissan América Latina, disse que o plano de ampliação terminará quando o segundo SUV, que terá produção exclusiva no Brasil e será exportado para mais de vinte países, incluindo o México, entrar em linha. E deixou escapar: será no ano fiscal atual, ou seja, até o fim de março de 2026.
Tarifas
Questionado sobre o vai e vem de tarifas aplicadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Meunier, que liderou a operação brasileira da Nissan de 2010 a 2012, brincou: “Sou muito bem treinado nesta questão de tarifas, porque eu estive no Brasil”.
Disse o chairman da Nissan Américas que este movimento em nada afeta o Brasil e que pouco deverá mudar com relação ao México, local que abastece o mercado estadunidense com os veículos de entrada, como Kicks Play, Kicks, Versa e Sentra:
“Manteremos a produção no México, onde somos a empresa que mais vende produto local, e buscaremos ampliar os volumes nos Estados Unidos”.
Não há planos de transferir produtos de fábricas de um país para o outro – e Meunier acrescentou que são movimentos que demandam um prazo mínimo de um ano e meio. E insistiu: “Não há efeitos das tarifas dos Estados Unidos no Brasil”.