São Paulo – Ganha força no mercado a ideia de que no pós-pandemia o consumidor deixará em segundo plano a aquisição de veículos novos, abrindo espaço para a manutenção do seminovo. Análise da TCP Partners acerca do mercado de autopeças, obtida pela Agência AutoData, apresenta a retomada do setor de reposição ao universo da rentabilidade.
De acordo com Ricardo Jacomassi, economista que conduziu o estudo do comportamento do mercado a partir dos reflexos da covid-19 na economia brasileira, e na dos Estados Unidos, "o aftermarket voltará a ser um ótimo negócio do ponto de vista de margens de lucro e rentabilidade".
A conclusão se baseia nas tendências de queda da massa salarial, da possível retração de 6,8% do PIB e do crescimento da taxa de desemprego. O quadro criaria condições para que a compra de veículos novos seja postergada no País, criando oportunidades para a reposição porque "o consumidor investirá na hipótese mais segura que é manter o seu veículo atual".
Com isso, afirma Jacomassi, não apenas o mercado de distribuição de peças como também as fabricantes de componentes devem observar crescimento dos negócios no aftermarket mais expressivo do que as oportunidades comerciais no OEM. Pelo menos foi esse o comportamento que o estudo da TCP verificou no mercado dos Estados Unidos a partir de abril:
"Empresas como Dana e Cummins, nos Estados Unidos, por exemplo, passaram a ter maior margem Ebtida a partir de abril por causa do aumento das vendas no mercado de reposição. Um indicador da tendência é o fato das ações de empresas distribuidoras de peças listadas em bolsa naquele país, que compram dessas fabricantes, terem sido valorizadas."
As empresas revendedoras listadas em bolsas dos Estados Unidos e Brasil apresentaram maiores margens Ebtida com relação às empresas fabricantes de autopeças, refletindo expectativa de retomada das vendas devido à necessidade de reparação da frota.


Caso se confirme o cenário o setor de autopeças poderia se fortalecer financeiramente e reverter queda constante no faturamento. Números da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, divulgados pela Fecomercio, mostram que em 2019 o faturamento do varejo no Estado foi de R$ 17 bilhões, 11% a mais do que em 2018. Para este ano a TCP Partners projeta queda de 28% sobre o ano passado.
O economista disse que, no momento, há forte movimentação em torno do comércio de peças online para reposição: distribuidores estariam investindo em novas tecnologias para que sejam criadas plataformas de vendas robustas na internet.
Do lado das fabricantes existe a possibilidade, de acordo com o economista, de serem criadas linhas de produtos específicas para o mercado de reposição – movimento similar ao ocorrido em 2017, quando vendas maiores no aftermarket levaram montadoras a lançarem marcas de componentes, como é o caso da Ford com a Motorcraft e a Mercedes-Benz com a linha Alliance.
O dólar, por fim, mantido a um patamar igual ou superior a R$ 5,00, também favorece aos fabricantes nacionais – o câmbio valorizado onera a importação de componentes asiáticos, por exemplo, que possuem forte presença no mercado de resposição.
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