Caxias do Sul, RS – Depois de apurar, em abril e maio, recuo de 85% nas vendas na comparação com iguais meses do ano passado, a indústria brasileira de autopeças tem mostrado sinais consistentes de recuperação. Começou em junho, quando o setor trabalhou com 50% de queda. Para julho a atividade deverá atingir receita de 60% a 70% daquela realizada no mesmo mês de 2019. A estimativa é de Dan Ioschpe, presidente do Sindipeças, que participou, na segunda-feira, 20, de reunião-almoço virtual da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul.
Ele também destacou que a expectativa para o fechamento do ano deve ficar um pouco melhor do que a esperada pela Anfavea, que é de queda de 40%. Acredita que a atual retração deverá ser superada em menor tempo do que a última crise enfrentada pelo setor automotivo, especialmente no segmento de veículos comerciais, que perdurou de 2014 a 2016: “Se a recuperação ocorrer no ritmo que estamos vendo esta crise será menos duradoura. Mas será, sim, ano muito difícil, que deixará feridas”.
Para Ioschpe a pandemia está deixando, como legado, uma noção importante para o segmento empresarial: é muito arriscado ter uma só fonte de abastecimento para determinados conteúdos, ainda mais distante. Ele reconhece que é uma situação nova, porque nenhuma empresa no mundo pensou na possibilidade de todo o mundo parar: “Não chegamos a ter problemas sérios, mas não podemos operar com riscos tão elevados na cadeia de suprimentos. Precisamos ter fontes alternativas e mais próximas”.
Na sua avaliação há três oportunidades para acelerar ainda mais a recuperação. A primeira é o projeto de renovação de frota, que deve se consolidar nos próximos meses. Segundo ele há o consenso das entidades do setor e do governo de iniciar a renovação pelo segmento de caminhões, visando à troca de, em torno, 300 mil unidades com mais de trinta anos de uso.
O principal problema, segundo Ioschpe, é de natureza fiscal, razão para que o programa ter sido segmentado: “Estamos falando de um volume menor de veículos, idade média maior que os leves e de um impacto forte no País em termos de produtividade, segurança e meio-ambiente. Além disso o esforço econômico também seria menor”.
Argumentou ser necessário um esforço de setores do governo para oferecer ao comprador vantagem para fazer a troca: “Estou otimista com este programa, que creio ser possível estabelecer muito rapidamente, pois já temos a estrutura de reciclagem disponível. Precisa, mesmo, é de um esforço econômico”.
Outras duas oportunidades incluem o segmento de leves, embora Ioschpe as considere de mais difícil consolidação. Uma busca a redução do custo financeiro para a compra do veículo, que atualmente se aproxima de 20% ao ano, e a outra inclui mudança na tributação, fazendo com que seu custo seja diluída ao longo da vida útil do veículo.
Necessidade das reformas – Dan Ioschpe também fez um balanço das ações do governo neste período de crise. Destacou que o setor precisa ter a máxima flexibilidade laboral, para garantir a manutenção dos empregos, e a redução do custo das empresas, por meio de medidas como o diferimento de impostos. Também criticou as dificuldades na obtenção de crédito para as médias empresas junto ao sistema financeiro. Segundo ele existem bons produtos para as pequenas empresas, mas não para as médias, que enfrentam problemas com a chegada do financiamento na ponta.
Para o empresário passada a pandemia a expectativa de recuperação do setor está ancorada em uma agenda econômica que, ou já está em andamento, ou precisa ser retomada. Citou, de forma especial, a definição da reforma tributária, com as PEC 45 e 110, e da reforma administrativa, a realização de investimentos em infraestrutura e a retomada dos acordos de comércio multilaterais: “O mundo vive uma situação sem precedentes. Nenhum de nós imaginou em algum exercício de gestão de risco que vivenciaríamos mundialmente o que estamos passando”.
Fotos: Rafael Cusato.