São Paulo – Os desafios para que a cadeia automotiva reaja este ano e apresente crescimento significativo em relação a 2021, assim como ocorreu no ano anterior, persistem. Diferentemente do que se esperava no início de 2022, de que em meados dele a crise dos semicondutores teria dado uma trégua, com a eclosão da guerra na Ucrânia foi preciso aprender a conviver por mais um tempo com a escassez de componentes uma vez que projeções apontam para solução somente em 2023.
Além do desequilíbrio nas cadeias globais de suprimentos, que acabam afetando mesmo aqueles que não possuem problemas de oferta, mas que são deixados na prateleira até que os componentes faltantes sejam entregues e os veículos finalizados, os juros e a inflação continuam nas alturas, a logística ainda está sobrecarregada, é ano eleitoral no Brasil, o que embute instabilidade, e enquanto a economia não avança o risco de inadimplência é crescente neste cenário.
Posto isso, a projeção de crescimento da cadeia de autopeças teve de ser ajustada. Em março o Sindipeças trabalhava expectativa de alta de 10,8% este ano, com receita de R$ 181,3 bilhões. Agora a perspectiva é de ampliar o faturamento em 9,1%, para R$ 178,5 bilhões.
E vale lembrar que no ano passado o setor apresentou o melhor desempenho desde 2015, com alta de quase 30%, comportamento, entretanto, influenciado pela disparada da inflação e não pela maior atividade industrial.
Outra mudança também deverá se dar no fluxo do comércio exterior. O presidente do Sindipeças, Cláudio Sahad, afirmou que após o superávit de 281,3% na balança comercial do setor em 2021, provocado pelo aumento de 21% nas exportações frente ao desarranjo das cadeias e em comparação ao fraco desempenho de 2020, para este ano é aguardado déficit de 29,1%:
“Infelizmente essa é a realidade que vem acontecendo nos últimos anos, pois importamos mais do que exportamos”.
Boas perspectivas — Apesar dos problemas, o dirigente citou que expectativa ainda é positiva. “Acreditamos que teremos melhora no fornecimento dos componentes que estão faltando no segundo semestre.”
O otimismo quanto ao aumento das vendas se deve a uma maior participação nas montadoras, que deverá avançar de 60,4% para 61,4%, com R$ 109,5 bilhões. A distribuição no mercado de reposição, 21,7%, para exportação, 13,8%, e no intrassetorial, 3,1%, deverão se manter.
Com relação aos investimentos, Sahad acredita que haverá expansão de 9,5% em 2022, para R$ 2,3 bilhões, impulsionado pelo aumento da localização de peças por parte da cadeia. O movimento vem sendo estimulado pelo cenário de dólar alto, logística complicada e pela própria crise no fornecimento de componentes.
“Vejo que os aportes têm sido dedicados, além do aumento de capacidade, à melhoria dos processos, digitalização e automação. Tenho visto inclusive pequenas e médias empresas aproveitando os programas prioritários do Rota 2030 para investir em indústria 4.0, ESG e governança.”
Atualmente o Sindipeças possui cerca de quinhentos associados, sendo dois terços de pequenas e médias empresas que formam a base da cadeia de suprimentos, sem as quais, pontuou Sahad, os sistemistas teriam de importar componentes para os produtos vendidos às montadoras.