Crédito é pedra no sapato de fabricantes, que demandam opções de financiamento a juros menores que Selic
São Paulo – Ainda que a perspectiva para a evolução da safra de grãos bata recorde este ano, com 322 milhões de toneladas, a exemplo do que aconteceu em 2022, com 321 milhões de toneladas, desta vez a venda de máquinas não deverá acompanhar a bonança no agro. Diferente do que aconteceu naquele ano, em que foram comercializados 70,3 mil equipamentos agrícolas e 39 mil de construção, a projeção é de estabilidade em comparação a 2024, principalmente por um fator: a alta taxa de juros.
Dados da Anfavea divulgados na quinta-feira, 23, apontam para expectativa de comercializar 87,1 mil máquinas autopropulsadas, 1,3% acima do ano passado. Sendo 48,9 mil máquinas agrícolas, exatamente o mesmo número de 2024, e 38,2 mil máquinas de construção, 3% acima das 37,1 mil do ano passado.
“O que faz com que o agricultor tenha apetite para aquisição é uma taxa atrativa de financiamento”, disse Alexandre Bernardes, vice-presidente da Anfavea. “Se o Plano Safra fosse lançado até junho no segundo semestre deste ano haveria melhores condições. Mas, na falta dele, resta o CDC, que acompanha a Selic, cuja projeção é a de que alcance 14,25% ao ano em 2025.”
Bernardes observou que, neste cenário, nem mesmo a projeção de safra recorde e a retomada do ciclo virtuoso da agricultura será suficiente para sustentar o aumento da demanda por máquinas: “Hoje só compra quem realmente precisa”.
O presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, reforçou que, para tanto, é fundamental um crédito atrativo, com taxas melhores e novas fontes: “Quando nós vendemos mais de 100 mil máquinas, em 2022, houve um programa agressivo de financiamento. Para que possamos repetir o desempenho é preciso estabelecer condições competitivas por parte do Plano Safra e do BNDES”.
Outro ponto integrante da agenda prioritária do setor para 2025, no que se refere às máquinas de construção, é que o governo aperfeiçoe a política de compras públicas sem prejuízo à indústria local, a exemplo do que sei viu no ano passado, em que um terço dos equipamentos adquiridos era importado.
Para estimular a cadeia produtiva é importante também que haja incentivo à renovação da frota de máquinas, além da expansão da mecanização e a reindustrialização da cadeia de fornecedores. Lima Leite disse que isto “ajudará se o governo prover a recomposição da alíquota do imposto de importação aos 14%. Hoje a taxa está em 12,2%”.
Brasil precisa reforçar diplomacia com outros países
Quanto às exportações a projeção da Anfavea é que também deverão manter-se estáveis este ano, com o embarque de 20,6 mil equipamentos, leve alta de 0,3%, sendo 6,1 mil máquinas agrícolas, 1% a mais do que no ano passado, e de 14,5 mil máquinas de construção, mesmo volume de 2024.
“A exemplo do que vimos em licitação de ônibus elétricos no Chile, em que o Brasil não conseguiu participar por alegarem falta de garantias por parte do BNDES, e para não repetir o ocorrido, o governo precisa agir ao estabelecer novas políticas de garantia e financiamento para a exportação”, assinalou o dirigente da Anfavea. “É preciso, portanto realinhamento e diplomacia por parte do País.”