São Paulo – O acúmulo de créditos tributários nas mais variadas esferas governamentais é um problema de anos e sem perspectiva de solução, no curto prazo, para a indústria, em especial a automotiva. A Anfavea calcula que há mais de R$ 25 bilhões em créditos acumulados para o setor represados, referentes às mais diversas espécies de transações, que seriam muito bem-vindos no cenário de restrição no fluxo de caixa gerada pela pandemia da covid-19.
A entidade já colocou na mesa do governo diversas propostas para receber de volta esses impostos pagos a mais, todas sem sucesso.
“É uma questão que só deverá ser resolvida no longo prazo, com a reforma tributária”, analisa Paulo Paiva, vice-presidente do segmento automotivo da Becomex, consultoria especializada nas áreas fiscal, tributária e aduaneira. “Enquanto isso a indústria precisa buscar soluções diferentes para amenizar o problema no curto e médio prazo.”
A Becomex desenvolveu e colocou no mercado uma planificação de negócio colaborativa para reduzir a necessidade de geração de créditos. Por meio de análise integrada em toda a cadeia identifica onde é possível, graças a mecanismos criados pelo próprio governo, reduzir a quantidade de impostos pagos na compra de insumos e concentrá-los na venda do produto final.
Por exemplo: em uma operação de exportação é possível abater o imposto de importação de peças e componentes trazidos de outros países antes de agregar o valor no produto final. Segundo o diretor Wilham Krause o próprio governo tem programas que permitem essa ação: “O governo não quer onerar a exportação, sabe que o produto brasileiro precisa ser competitivo e então cria mecanismos que facilitam essa desoneração”.
O problema é que, como a cadeia automotiva é muito extensa, é preciso fazer com que esses mecanismos cheguem a todos os elos. Essa é a dificuldade que a Becomex pretende eliminar com o BCC, Business Colaboration Chain, como batizou o produto: “Determinado fornecedor, por exemplo, pode se negar a não pagar o imposto com medo de ser punido depois”, contou Paiva. “Nosso trabalho é explicar a toda a cadeia que é possível, dentro da legislação”.
A ideia é pegar toda a cadeia de fornecedores de uma montadora, por exemplo, e mapear onde há maior incidência de impostos que tornam-se créditos e onde é possível conseguir ganhos. Depois, chegar ao fornecedor e convencê-lo a integrar o sistema – e isso só será feito se a operação for de ganho para os dois lados. Nos cálculos da Becomex é possível reduzir em até 90% o imposto que hoje é pago por toda a cadeia e fica acumulado em crédito tributário no caixa do governo.
“O primeiro passo é estancar a geração de créditos com o governo. Depois nosso trabalho é, por meio desses mecanismos, ter acesso aos R$ 25 bilhões e reduzir este volume acumulado ao abater o pagamento de novos impostos, por exemplo.”
A receptividade da indústria à ideia foi boa, garantiu Paiva: “O momento é de busca por fluxo de caixa e esse produto garante melhor desempenho, monetiza esse crédito”.
Neste processo a Becomex entra com seu know-how tributário, com a modelagem do negócio para que não haja pagamento de impostos desnecessários e com a tecnologia, oferecendo a plataforma sob a qual toda a operação será feita. O primeiro foco são as montadoras, mas já há conversas com empresas sistemistas e até com fornecedores do tier 2 – como a cadeia é extensa, é possível obter ganhos em vários níveis.
A indústria automotiva compõe importante espaço no portfólio de clientes da Becomex. A consultoria atende, atualmente, a mais de vinte montadoras e a duzentos fornecedores. Só com este novo produto estima obter, em um ano, mais de R$ 1 bilhão que seriam pagos em impostos, só recuperados na forma de créditos tributários mais adiante – e sabe-se lá quando e como.
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