São Paulo – Os desafios estão lançados: a morosa campanha de vacinação contra a covid-19 no Brasil, a reforma tributária estacionada no Congresso e as dificuldades na cadeia de fornecedores são alguns pontos que podem jogar água no chope da indústria brasileira de veículos comerciais pesados em 2021. Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas e marketing para caminhões e ônibus da Mercedes-Benz, manteve projeções otimistas em conversa com jornalistas na quarta-feira, 24, por videoconferência, apesar das questões levantadas.
Nos cálculos da empresa, que mantém fábricas em São Bernardo do Campo, SP, e Juiz de Fora, MG, o mercado brasileiro de caminhões fechará o ano com 101 mil unidades vendidas, volume 15% superior ao de 2020. Em chassis de ônibus a alta prevista é de 13%, para 16 mil unidades – com mais força no segundo semestre, segundo Leoncini.
A crença na aceleração da recuperação do mercado fez com que a Mercedes-Benz contratasse, no começo do ano, 1 mil trabalhadores, metade deles temporários com contrato renovado e aprendizes do Senai efetivados. E os investimentos estão mantidos: dos R$ 2,4 bilhões aplicados de 2018 a 2022, R$ 800 milhões ainda estão em andamento, segundo o presidente Karl Deppen.
“Inauguramos em 2019 a linha de cabines de caminhões 4.0 em São Bernardo do Campo e no ano passado a de ônibus 4.0. A partir deste ano modernizaremos as linhas de agregados, câmbio, motor e eixo, também dentro do conceito da Indústria 4.0, e desenvolveremos novos produtos e serviços de conectividade.”
Em paralelo a companhia investe, em parceria com a Bosch, R$ 70 milhões para construir um Centro de Testes Veiculares em Iracemápolis, SP, para atender, também, a demandas de terceiros. Sobre a fábrica de automóveis vizinha ao terreno, cuja produção foi descontinuada no fim do ano passado, Deppen disse que a companhia ainda estuda o que fazer.
O vice-presidente Leoncini apresentou o resultado da Mercedes-Benz em 2020: 31,6% dos caminhões vendidos no Brasil foram de sua produção, ou 26,8 mil unidades, volume 4,4% inferior ao de 2019 em um segmento com queda total de 12,1%. Em ônibus a participação foi de 46,7%, após o tombo de 42,1% nas vendas de chassis M-B, diante de uma retração de 33,3% do segmento. Foram 6,5 mil chassis vendidos.
“Nosso desafio é manter participação superior a 30% em caminhões e de 50% em ônibus”.
Para tornar mais difícil este desafio, além das questões sanitárias e de mercados, existe o cenário de faltas de peças, em especial semicondutores. Leoncini disse que ainda não houve necessidade de parar as linhas, como no caso da Honda, em Sumaré, SP, mas a empresa trabalha todos os dias com esse risco e lança mão de alternativas, como o frete aéreo, para evitar o desabastecimento nas linhas.
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