São Paulo – Os custos do processo produtivo industrial, incluídos aí os do setor automotivo, tornaram-se mais brandos em agosto. A forte pressão nos preços vista ao longo da pandemia, especialmente no ano passado, parece ter ficado para trás. Mas isso não significa que os preços, principalmente dos produtos finais, tendem a se acomodar.
Até porque os motivos que levam a essa menor alta nos custos da cadeia produtiva não estão relacionados ao ajuste da oferta com a demanda e, sim, ao fato de que o movimento de alta da inflação e escalada dos juros em diversos países, como Estados Unidos e Brasil, somada à menor perspectiva de crescimento da China, reflete o temor de uma desaceleração e, até mesmo, de uma recessão global.
Dados da FGV, Fundação Getulio Vargas, mostram que nos doze meses terminados em agosto o IGP-M, Índice Geral de Preços Mercado, variou 8,59% e um ano atrás o indicador acumulava 31,1%. Quando se analisa o IPA, Índice de Preços ao Produtor Amplo, que representa 60% da composição do IGP-M, a diferença é ainda mais gritante na desaceleração: se no acumulado até agosto a variação foi de 8,65% há um ano os custos haviam subido 39,97%.
Este movimento tem sido puxado pela queda nos valores de commodities amplamente usadas na manufatura, como aço, minério de ferro e petróleo. Justamente as vilãs do cenário industrial um ano atrás. As matérias-primas brutas deflacionaram 0,63% este mês e também nos doze meses terminados em agosto, em que os custos recuaram 6,62%.
Os bens intermediários, que incluem aço, borracha e materiais plásticos deflacionaram 0,76% em agosto, mas no acumulado ainda mantêm alta de 22,1%. E os bens finais, em que se encontram a fabricação de veículos e bens de capitais, recuaram 0,73% no mês enquanto que em doze meses somam avanço de 13,8%.
Na avaliação do economista Adriano Oliveira, especializado no setor automotivo, os preços relacionados ao processo produtivo, no geral, não diminuíram: “Subiram menos, com exceção dos custos das commodities industriais, como aço e minério de ferro, que voltaram a níveis pré-pandemia. O petróleo Brent caiu 10% nos últimos meses. Mas alimentos, como soja, milho e açúcar, foram para patamares lá em cima. O que acende sinal de alerta”.
Oliveira contextualizou que os gargalos de oferta e de logística não parecem ter sido solucionados, ao citar o fornecimento de componentes para a indústria automobilística, especialmente os semicondutores:
“A Europa voltou a usar carvão, que está em preço recorde, o que faz subir tremendamente o custo da energia pela substituição do gás russo, por causa da guerra na Ucrânia. Soma-se a isso o aquecimento da economia e o índice de confiança do consumidor subindo. Não vejo espaço para o preço dos automóveis parar de crescer”.
A favor dessa equação tem-se a tendência da desvalorização do dólar. O câmbio, que há alguns meses chegou perto de R$ 6, hoje está na casa dos R$ 5,10. Isso favorece a precificação dos bens transacionáveis, a fim de que não sejam muito pressionados. E, em tese, apontou, o custo de importados pode estar menor, mas ainda sujeito a fatores como a oferta restrita.
No mercado doméstico medidas pontuais têm contribuído para puxar para baixo os valores de insumos como os combustíveis fósseis. Segundo André Braz, coordenador dos índices de preços da FGV, a redução do ICMS e dos valores dos combustíveis na refinaria seguem exercendo expressiva influência no resultado do IPA e do IPC, Índice de Preços ao Consumidor, também parte do IGP-M:
“No índice ao produtor as quedas mensais nos preços da gasolina, de 4,47% para -8,23%, e do diesel, de 12,68% para -2,97%, ajudaram a ampliar o recuo da taxa do indicador. Já no âmbito do consumidor, passagens aéreas, de -5,20% para -17,32%, e etanol, de -9,41% para 9,90%, também contribuíram para o abrandamento da inflação”.
Vale lembrar que esse movimento se deu após sucessivas altas. Oliveira complementou que esses recuos se devem aparentemente ao conhecido pacote de bondades do governo e que, devido a essa natureza, fica difícil realizar projeção de um mercado submetido a tantos choques exógenos: “Conseguimos modelar preço da alface, por exemplo, porque é sazonal”.
Sobre o impacto da redução do IPI nos preços, uma vez que o governo ampliou a diminuição do imposto cobrado na compra de veículos 0 KM de 18,5% para 24,75%, o economista disse que não possui artifícios para avaliar: “Mas há uma coisa que não podemos nos esquecer: o preço é formado a partir de uma série de fatores. E que por diversas vezes dependem mais do marketing do que custo de fato”.