São Paulo – Ainda que as taxas de juros não tenham recuado na mesma proporção do que a queda da Selic, na já interrompida trajetória de corte do Banco Central, o financiamento vem sendo a mola propulsora do mercado brasileiro de veículos. As vendas a prazo, que chegaram a 30% do total nos últimos anos, índice que historicamente é na casa dos 70%, representaram em torno de 50% dos emplacamentos do varejo de janeiro a setembro, segundo o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite.
O resultado de setembro, especialmente, surpreendeu: média diária de 11,3 mil unidades, a melhor do ano, puxada pelas vendas financiadas. Média que poderia fazer com que a Anfavea revisasse sua projeção do mercado interno para o ano, de 2 milhões 560 mil unidades: Lima Leite admitiu que as vendas podem chegar a algo em torno de 2,6 milhões a 2 milhões 650 mil unidades.
“Caso seja mantido este ritmo de crescimento de setembro no último trimestre as nossas projeções serão superadas. Mas decidimos manter as estimativas e torcer para que erremos, para baixo.”
Segundo o presidente a Anfavea não revisou justamente por causa do movimento do Banco Central de interromper o corte na taxa básica de juros e, em setembro, de voltar a subir 0,25 ponto porcentual, para 10,75%. Os primeiros impactos desta decisão já começaram a ser sentidos, disse:
“Começaram a subir antes [o que justifica a subida de agosto, registrada pela Agência AutoData com base nos dados do BC]. Quando os bancos começam a projetar aumento da taxa Selic é natural que os juros já comecem a subir, antecipando a tendência”.
Segundo Eduardo Freitas, vice-presidente da Anfavea, no segmento de comerciais pesados as taxas aplicadas pelo BNDES subiram também na média, de 10% para 13%, o que, na sua opinião, começará a refletir nas vendas da indústria. Nos leves Lima Leite ainda prega a cautela: “Juro alto não combina com o setor. Quando as taxas caíram o mercado cresceu. Agora a Selic subiu e temos que ver qual poderá ser o impacto, que virá em algum momento, na demanda”.
Imposto de importação
A Anfavea ainda não jogou a toalha em seu requerimento de retorno imediato do imposto de importação para veículos híbridos e elétricos, descartando o calendário de recomposição estabelecido pelo governo no fim do ano passado.
Lima Leite disse que o pedido foi protocolado na Camex, Câmara de Comércio Exterior, órgão do MDIC, Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviço, e deverá ser analisado. Segundo ele a justificativa para o pleito é um cenário diferente daquele do ano passado, inclusive em âmbito global, em referência aos movimentos de Europa e Estados Unidos de sobretaxar veículos elétricos importados da China em seus mercados.