São Paulo – 2023 foi marcado por grande tombo no mercado de caminhões por causa do aumento dos preços causados pela mudança de tecnologia em meio a cenário de juros altos e à maior rigidez na concessão de crédito, diante do aumento da inadimplência. Esta poção mágica ao contrário complicou a vida das empresas fabricantes de pesados, e a Mercedes-Benz não deixou de sentir esse baque.
Em meio a processo de reestruturação, em busca de maior rentabilidade do negócio brasileiro, a companhia terceirizou parte de suas atividades, o que resultou na decisão de encerrar operação em Campinas, SP, o que será concluído no fim do ano que vem.
Segundo o presidente da Mercedes-Benz do Brasil e CEO para a América Latina, Achim Puchert, que conduz o conjunto de táticas, no último trimestre começou a ser vista alguma melhora no cenário, resultado diante da redução da taxa de juros e da perspectiva de taxas melhores para o ano que vem, embora o caminho para a recuperação seja lento, ritmo que deverá seguir ao longo de 2024: “Vemos um pequeno crescimento para o ano que vem, não um crescimento revolucionário. A demanda deverá reagir, mas ainda não retornaremos ao nível de 2022”.
Dados da Anfavea mostram que a produção brasileira de caminhões caiu 37,4% de janeiro a novembro com relação ao acumulado do ano passado, somando 92,3 mil unidades, e que, até o fim do ano, este porcentual de queda deverá ser mantido, com volume de 102 mil veículos. Quanto às vendas as 97,7 mil unidades apresentam recuo de 14,4%, porcentual que deverá avançar para 15,2% no fechamento do ano, com 107,4 mil unidades.
De acordo com o ranking da Fenabrave a companhia ocupa a segunda posição no emplacamento de caminhões, com fatia de 25,2% do mercado e 23,7 mil unidades, atrás da Volkswagen Caminhões e Ônibus, com 26,1% e 24,6 mil unidades – a liderança foi perdida em 2021. Neste ano ocorreu outra perda para a concorrente: a sua escolha pela Coca-Cola para transportar a Caravana Iluminada do Natal, uma tradição de anos sustentada pela própria Mercedes-Benz.
Quanto aos ônibus a produção de chassis encolheu 35,4%, com 19,3 mil unidades, que a Anfavea estima que cheguem a 21 mil até o fim do mês, com diminuição de 33,9%. As vendas avançaram 25,8% no acumulado do ano e totalizaram 19 mil unidades. E, para o fim do ano, é esperada alta de 18,8%, com 20,6 mil unidades.
Conforme o ranking da Fenabrave a situação se inverte e a Mercedes-Benz mantém a liderança com fatia de 58,2% e 13,2 mil unidades emplacadas, legando à Volkswagen Caminhões e Ônibus parcela de 18,9% e 4,2 mil unidades. Apesar de, para o ano que vem, haver otimismo no mercado quanto às entregas da nova fase do Caminho da Escola a companhia este ano não venceu lotes da licitação do programa do governo federal.
Apesar dos revezes Puchert reafirmou, durante conversa com jornalistas, que a fabricante está negociando novo ciclo de investimentos com a matriz, informação compartilhada em entrevista para a edição da revista AutoData Perspectivas 2024: “Está em discussão um novo aporte. Vamos ver o que faz sentido e quando investir. A ideia é localizar mais produtos a fim de ampliar o portfólio e trazer novas tecnologias. Mas ainda é cedo para dizer”.
O novo investimento deverá vir somente após 2025, de acordo com o executivo, que, conforme também já havia adiantado para AutoData em setembro, este será o prazo para que o plano de reestruturação em curso chegue ao fim, o que deixará a empresa preparada para a nova injeção de recursos.
Recentemente foi concluído ciclo de R$ 2,4 bilhões, de 2018 a 2022, recursos que foram empregados em novos veículos, na modernização das linhas de produção 4.0 e em novos serviços e tecnologias de conectividade.
Sobre as novas tecnologias e os planos de descarbonização, incluindo veículos movidos a hidrogênio, uma vez que a Mercedes-Benz já possui caminhão elétrico movido a célula de combustível, Puchert disse que é possível iniciar testes aqui no Brasil, mas por se tratar de produto direcionado ao uso rodoviário é preciso ter estrutura para tal.
“Sem dúvida trata-se de uma opção para a eletrificação. Mas o nosso maior desafio não são os veículos urbanos mas, sim, aqueles utilizados para deslocamento de longas distâncias: requerem infraestrutura adequada e ainda são um produto muito caro.”
Quanto à competitividade dos ônibus elétricos, cuja primeira leva do seu eO500U a Mercedes-Benz começou a entregar no mês passado, composto por lote de cinquenta unidades para o sistema urbano da cidade de São Paulo, Puchert assinalou que não se pode olhar apenas para o preço do veículo, uma vez que concorrentes chineses entram no País com valores mais atrativos.
“É preciso analisar o custo total da operação e o suporte que se terá ao adquirir um produto desses. E nós qualificamos nosso pessoal e os distribuidores para prestar assistência aos clientes. Por isto esta concorrência não é algo que nos assuste.”