São Paulo – Depois de oito meses e onze dias da posse do novo presidente a situação da economia argentina dá mostras de estar iniciando um processo de estabilização. A trajetória rumo à recuperação plena, entretanto, é longa e terá muitos percalços, especialmente este ano. Este é o resumo do tango contado por Andrés Civetta, analista de economia e negócios da consultoria Abeceb, em palestra do terceiro dia do 6º Congresso Latino-Americano de Negócios do Setor Automotivo, com realização de AutoData.
Para ele as primeiras medidas de choque do novo governo já estão produzindo bons dividendos, como a redução da inflação mensal, de 13% em novembro para 3,8% em julho, e o fato de as reservas líquidas do país crescerem de US$ 11 bilhões negativos para US$ 8 bilhões.
Porém a atividade econômica só deverá voltar a crescer em 2025, com projeção de 4,5% de alta. No segundo trimestre deste ano houve retração de 5%, recessão ainda maior do que a queda de 1,2% no último trimestre de 2023, e a previsão é que o ano termine com diminuição de 3,3%.
Outra questão fundamental levantada é do câmbio, que tem duas cotações para o dólar, a oficial e a paralela: “Esta diferença chegou a ser de 150% no fim do ano passado e agora está em 45%, sendo que já esteve em 20%”, disse Civetta. “É uma redução importante para que o governo atinja um dos seus objetivos, que é a unificação cambial, para que não haja dois valores”.
Para tanto ele acredita que uma ação fundamental foi o ataque ao déficit fiscal, que era de 4,4% do PIB em novembro. Hoje há superávit de 0,4%.
Portanto, para o consultor, o cenário geral mostra pontos positivos como a baixa da inflação, a valorização do peso argentino e o aumento do crédito. De outro lado persistem fatores que jogam contra a recuperação, a exemplo da política monetária restritiva, a contração fiscal e a dificuldade de atrair investimentos.
Na sua opinião as tensões permanecem e os maiores desafios são acelerar o declínio inflacionário, cuidar das reservas e conseguir recuperação mais rápida. Desta forma as perspectivas para 2025 são de unificação e de acomodação da taxa de câmbio no início do ano, seguida de aumento transitório da inflação e pausa na recuperação, finalizando com redução rápida da inflação e recuperação da atividade econômica a partir do segundo trimestre.
Setor automotivo desce antes de subir
Civetta sinalizou que as projeções para este ano indicam, já, que haverá setores crescendo na Argentina, com destaque para petróleo e gás, mineração, agronegócio e economia do conhecimento. Já a área automotiva está no balaio das que ainda cairão este ano, com baixa prevista de 24,7%, e que deverão retomar tempos melhores somente em 2025 – alta estimada em 10,5%.
Aprofundando os números: o mercado argentino, que fechou o ano anterior com produção de 636 mil unidades, deve atingir apenas 480 mil em 2024 e subir para 532 mil no ano que vem. Vale ressaltar que o recorde foi conquistado recentemente – em 2017, com mais de 800 mil.
O consultor prevê que, da mesma forma que as vendas internas as exportações cairão 18,1% este ano, recuperando-se em 2025 com um avanço de 12,4%. Neste caso a queda deve-se especialmente à retração forte de alguns mercados médios da região, como Chile, Colômbia, Equador e Peru, compensada em parte pelo aquecimento no Brasil. Apesar de tudo alguns fatores podem contribuir para a retomada geral, como a desburocratização e a facilitação do comércio.
A situação da indústria automotiva na Argentina só não é pior neste momento pelo sucesso da especialização do país em produzir picapes médias. De janeiro a julho de 2024, por exemplo, a baixa das exportações de comerciais leves foi de 10%, bem menor que os 29% de queda registrados nos automóveis.
“A Argentina é o quarto maior produtor mundial de picapes médias, atrás de Tailândia, Estados Unidos e China.”
Metade da demanda latino-americana, México incluso, neste segmento é abastecida por modelos argentinos, que chegam a vinte nações diferentes. E se em 2012 esta categoria representava 6% das vendas em toda a região hoje representa 10%.
Na conclusão de André Civetta o setor automotivo – o quarto maior exportador do país – continua com alto potencial mas precisa de mais competitividade e avanços nos acordos comerciais que facilitem as exportações e diversifiquem os destinos. E, de modo mais amplo, o maior teste para o sucesso do governo atual serão as eleições legislativas em 2025, que servirão como um termômetro do apoio popular às medidas que estão sendo aplicadas.