São Paulo – “Quando converso com os colegas brasileiros, eles não entendem como fazemos e nem como o consumidor lida com tudo isso”, disse Sebastián Beato, presidente da Acara, Asociación de Concesionarios de Automotores de la República Argentina, durante o 6º Congresso Latino-Americano de Negócios do Setor Automotivo, organizado por AutoData.
O espanto é compreensível ao tomar conta de alguns dos aspectos ao redor da distribuição de veículos na Argentina. “Nosso mercado hoje é um eletrocardiograma. As mudanças são bruscas e podem acontecer de um mês para outro”.
A causa principal é a enorme variação da diferença das duas cotações do dólar usadas por lá – o câmbio oficial e o blue, paralelo – que se chama por lá de brecha cambiária. “Quando a brecha está maior, como agora, ao redor de 60%, se vende bem um carro argentino”, relatou Beato. “Já se a brecha estiver pequena, se vende melhor um importado.”
Uma amostra é que dos cinco automóveis mais vendidos na Argentina, o primeiro importado aparece só na quinta posição, o Toyota Yaris. À frente dele estão quatro modelos locais. Na ordem: Fiat Cronos, Peugeot 208, Toyota Hilux e Ford Ranger.
Neste ano, a fatia dos veículos importados vendidos na Argentina é de 43%. Em 2019 foi de 71%. O que deixa o quadro pior é que há cinco anos, o mercado total foi de 440 mil unidades e neste ano a previsão é de apenas 370 mil.
Além de dificultar a comercialização de carros importados, as marés do câmbio e da demanda afetam a velocidade para girar os estoques. “Falando apenas de dezembro para cá, o dólar estava a 400 pesos e de uma hora para outra tivemos uma desvalorização do peso que levou a cotação para 800. Neste momento, um carro importado que eu já havia comprado passou a valer o dobro.”
Por isso, todos querem saber, diariamente, as cotações do dólar oficial e do blue, de acordo com Beato. “Estamos levando no dia a dia. Hoje creio que o empresário argentino está no esplendor do seu treinamento financeiro e administrativo”, ironizou.
Tal volatilidade também torna difícil definir os preços dos carros usados, na opinião dele.
Compras por oportunidade
O presidente da Acara analisou que a maior parte de quem compra veículos novos na Argentina o faz por uma questão de oportunidade de momento, não de necessidade. A aquisição acaba sendo realizada ou por um preço baixo ou por um financiamento favorável.
Porém, no meio de toda essa instabilidade gerada pelas medidas de choque do atual governo argentino, há bons indicadores, como o início da queda da inflação e das taxas de juros. Estas, por exemplo, caíram de 130% para 29%, segundo o dirigente. Poucos sinais mas já suficientes para o deixar otimista: “Calculo que em um curto prazo possamos ter um mercado mais estável e saudável do que o que temos agora”.