São Paulo – O panorama do mercado de veículos na Colômbia é dos mais peculiares: apesar de o país ser o segundo maior em habitantes na América do Sul – 51,8 milhões, segundo dados de 2022 –, o total de veículos vendidos em 2023 foi de apenas 187 mil unidades, 30% a menos do que no ano anterior. Cerca da metade das vendas previstas para a Argentina, que está lutando para sair de uma de suas maiores crises econômicas e tem população menor, com 46,2 milhões de habitantes.
O quadro é bem diferente para o segmento de motos, que teve ao redor de 600 mil emplacamentos no ano passado. Esses foram alguns dos dados apresentados por Rodrigo Anjel Mariño, diretor técnico da entidade colombiana Andemos, Asociación Nacional de Movilidad Sostenible, que encerrou o 6º Congresso Latino-Americano de Negócios do Setor Automotivo, realizado por AutoData.
O especialista mostrou que há muito o que conquistar por lá, pois existem apenas 5 veículos para cada 1 mil habitantes, metade do que se vê na América Latina. Além disso, a frota é ultrapassada, com idade média de dezoito anos. E da frota circulante de 17,8 milhões de unidades em 2022, nada menos que 11 milhões são motocicletas, quase o dobro dos veículos de passageiros, 6 milhões.
Para efeito de comparação, no Brasil havia ao final do ano passado 38,4 milhões de automóveis, quase três vezes mais que o universo de motos, de 13,2 milhões.
Em contrapartida a eletrificação está acelerando rapidamente na Colômbia, com os híbridos representando 13,1% das vendas de 2023 e os modelos a bateria alcançando 2,9%. Ou seja, uma fatia significativa de 16% é de carros com algum nível de eletrificação.
No acumulado deste ano os modelos conseguiram ter alta de 45%, enquanto o mercado geral está estagnado. “Há incentivos públicos para os veículos eletrificados, como isenção de restrições de circulação urbana, como o rodízio de placas, e impostos menores”.
Incertezas à vista
Apesar dos números tímidos para o tamanho do país, o especialista estima que de 50% a 55% das vendas sejam de veículos produzidos no Brasil. “Mas existe uma preocupação com o fim do acordo comercial bilateral”.
De acordo com ele, o governo justificou tal movimento pela intenção de fomentar a produção local de automóveis. “A questão é que isso não condiz com a realidade”, lembrando que hoje só a Renault tem uma produção digna de nota por lá e a GM recentemente encerrou as atividades fabris.
Outro desafio na Colômbia é uma reforma tributária prevista para 2025, que pode aumentar impostos para todos os tipos de veículos, incluindo os elétricos e híbridos que atualmente contam com taxas bem reduzidas.
“Dessa forma, as perspectivas para o setor automotivo colombiano não são muito animadoras”, analisa Mariño. “Mas esperamos que possamos fazer as mudanças necessárias no restante deste ano para que estas ameaças não se concretizem.”