Em 1º de outubro a Daimler Truck passará a ser liderada, pela primeira vez em sua história, por uma mulher. Conversamos sobre diversos desafios com Karin Rådström, a nova CEO.
Hannover, Alemanha – A principal executiva da Mercedes-Benz e futura líder da Daimler Truck, Karin Rådström, recebeu jornalistas brasileiros para uma entrevista exclusiva no IAA 2024. Ainda sob os reflexos de uma longa jornada, que incluiu um jantar de recepção à imprensa internacional na noite anterior, a primeira entrevista coletiva do dia seguinte no estande e uma agenda lotada com encontros oficiais no primeiro dia da exposição, além das já tradicionais diversas reuniões programadas, a futura CEO, que assume em 1º de outubro, falou de forma corajosa e com sua já conhecida transparência sobre diversos assuntos durante uma hora.
Dentre os temas relacionados ao futuro do transporte e dos produtos, ela falou como está se preparando para assumir a principal posição da maior fabricante de veículos comerciais da Alemanha, um negócio cujas posições de destaque geralmente foram ocupadas pelo gênero masculino.
A Agência AutoData perguntou a ela sobre a responsabilidade, como líder de uma das indústrias mais relevantes do universo corporativo, em tomar melhores decisões para garantir o futuro e a sustentabilidade do planeta, universo no qual os líderes que começaram suas carreiras no fim do século passado não tiveram êxito. Karin se disse confiante:
“Se eu não pudesse fazer a diferença não teria assumido esse cargo. Para ser honesta temos um grande board e temos como fazer a diferença. Temos ótimas equipes discutindo muitos temas numa direção muita positiva. Passo a passo tomaremos decisões certas. Às vezes podemos tomar decisões erradas. Mas esperamos que a maioria delas sejam boas para criarmos um planeta mais sustentável”.
A seguir alguns temas abordados durante esta agradável conversa. E as respostas de Rådström:
Energia para os caminhões elétricos recarregáveis
Olhando em função das perspectivas do consumidor temos quatro pontos: eles precisam de caminhões elétricos. Eles precisam de TCO. Eles precisam de infraestrutura. E todos nós precisamos de energia verde, limpa. Então acredito que no momento é preciso nos concentrar em dois desafios: o da infraestrutura e o da energia verde. Temos que pensar nos investimentos. Já há boas iniciativas em geração eólica e hídrica. Mas não será suficiente. Seremos dependentes de energia de outros países para fazer a transição.
Por isto eu acredito também na utilização do hidrogênio. Poderia vir do Oriente Médio. É possível porque conseguimos transportar para cá.
Em outras regiões do planeta teremos uma transição em ritmo diferente. Em alguns lugares não haverá o caminhão elétrico. Poderemos ter caminhões a hidrogênio.
Então precisamos dos dois: energia elétrica verde e hidrogênio.
Baterias
Sobre o desenvolvimento das baterias acredito que esse tipo de combinação lítio ferro-fosfato, LFP, usa menos matéria-prima. Isso me deixa mais confiante.
Temos que observar também que a demanda para produzir baterias já é menor. Mas também precisamos ficar de olho sobre a possível escassez desses recursos. Já há escassez em outros materiais. Ainda não sabemos como lidar com isso. A questão de materiais escassos prevalecerá por um longo período.
A bateria LFP tem uma segunda vida. Ficam até dez anos no caminhão. Estamos observando a legislação e o comportamento dessas baterias, que estão chegando agora às estradas. Então temos este tempo para podermos avaliar qual o melhor modelo de negócios para a segunda vida ou a reciclagem.
Integração de softwares de gerenciamento do caminhão
O software ficou mais presente nos caminhões. Muitas funções foram assumidas pelos softwares e pelos sensores. Com relação a uma nova fase lançamos um novo tipo de abordagem de arquitetura eletrônica no Actros e no Atego. Em breve levaremos sua arquitetura para outros produtos. Eu vejo grande benefícios nessa arquitetura.
E ainda há uma nova geração. Estamos fechando parceria com a Volvo para elaborar uma nova forma de inteligência ao caminhão. Isso ficará mais centralizado, os sensores e dispositivos ficarão mais burros e toda a inteligência será centralizada. Isso reduzirá custos porque ficará mais simples.
Motorizações a diesel
Na Europa temos o diesel e a legislação Euro 7. O diesel também continua importante mas precisamos pensar mais limpo no mundo todo. E isto me deixa orgulhosa em poder pensar, como Mercedes-Benz, em soluções mais interessantes. Acho que demorará para o mundo ter energia limpa. Não por causa dos caminhões mas por causa da infraestrutura. Considerando todas as opções. Estamos olhando todas elas: o hidrogênio, o biocombustível para caminhões e outras alternativas.
Não podemos esquecer que 50% do nosso volume de vendas está fora da Europa. E o Brasil e a Alemanha, juntos, são os maiores mercados. Então, precisamos pensar em novas soluções e ofereceremos isto no tempo certo, pois ainda temos muitos desafios pela frente.
Meio ambiente
Políticos e empresas devem trabalhar juntos para mudar a realidade atual e criar melhores objetivos contra as mudanças climáticas. Só com uma estreita cooperação isto será possível.