Emanuele Cappellano, CEO da Stellantis América do Sul, foi um dos destaques do Congresso Megatendências 2025
São Paulo – Não é só tendência e nem escolha: a eletrificação é uma exigência. Foi essa uma das principais mensagens passadas por Emanuelle Cappellano, CEO da Stellantis América do Sul, em sua apresentação no Congresso AutoData Megatendências 2025. Exigência não só do governo, mas também dos consumidores, que entendem e desejam partir para a eletrificação.
Nas contas da Stellantis até 2030 mais de 50% das vendas de carros no Brasil será de modelos híbridos ou elétricos. Cappellano disse que será puxada muito mais para os híbridos leves e híbridos, porque são tecnologias mais acessíveis e que casam melhor com a realidade da infraestrutura e bolso do consumidor local.
“Hoje um carro elétrico, comparado a um carro a combustão, custa aproximadamente US$ 10 mil a mais”, disse, ressaltando ser o custo do automóvel, não o seu preço de mercado. “É muito difícil pensar que a frota circulante no Brasil possa ser equipada no curtíssimo prazo com tecnologia que custa R$ 55 mil a mais. O HEV é um intermediário que custa R$ 5 mil ou R$ 6 mil a mais”.
E tem outras tendências, ressaltou o CEO para a América do Sul. “A eletrificação não é a única: a conectividade é um movimento muito forte. Hoje tem segmentos, como o C SUV, em que mais de 80% da oferta do mercado tem conectividade”.
O mesmo ocorre com itens de segurança ativa. “No caso da condução autônoma, o quadro regulatório e o mercado querem a adoção do ADAS 2. Não é ainda a direção autônoma, que começa com ADAS 3. Todos os novos lançamentos terão tecnologia de ADAS 2”, projeta Cappellano, que relembra que a maioria dos fornecedores dessas tecnologias não estão instalados no Brasil. “Nós, como montadoras, temos que facilitar o máximo possível a localização dos fornecedores, pois é a única forma que temos de garantir a competitividade”
O Brasil ainda tem oportunidades, entretanto, o custo crescente dos carros é uma questão que, aliada ao baixo índice de renda, serve como principal senão.
Má distribuição de renda é obstáculo
“O mercado poderia ser potencialmente de 5 milhões de carros, mas ainda estamos abaixo de 4 milhões porque os carros custam e as tecnologias que precisaremos introduzir aumentarão ainda mais o custo. A única opção é localizar e desenvolver localmente as soluções que sejam aptas e consistentes para o dia a dia do Brasil”.
Segundo Cappellano, “há um potencial adiante. Acreditamos que o mercado vai crescer, mas dependerá muito das condições macroeconômicas da região”.
Fotos: Patrícia Caggegi.
Ele acrescentou que existem limitadores que são difíceis de serem combatidos, uma vez que estão ligados à má distribuição de renda, sobretudo no Brasil.
“Um limitador fundamental é a baixa renda da população. Embora o Brasil tenha porcentual de carros por habitante relativamente baixo comparado a outras regiões do mundo”.
Em sua apresentação o executivo apontou que o Brasil é o país em que o porcentual é o mais tímido, com um carro por 4,6 pessoas, número que perde para o Chile, 1,8 automóvel por habitante, e Argentina, 3,2.
O poder de compra é um ponto que sempre é levado em consideração como um limitador que conduz as estratégias. “Esse é um ponto fundamental porque qualquer escolha estratégica que as montadoras fazem, que a Stellantis faz na região, é considerado o poder aquisitivo. Significa que a gente tem que tentar ter competitividade nos nossos produtos”.
Guerras tarifárias e investimentos
Em uma período de imprevisibilidade e aumento de tarifas de importação por parte do governo de Donald Trump, Cappellano garantiu que os planos de investimento de R$ 30 bilhões na América do Sul serão mantidos.
“Não serão as flutuações de curto prazo que influenciarão os investimentos”, disse, ressaltando que as regras de atuação têm que ser iguais, pois se as condições não forem mantidas, isso pode influenciar as decisões de investimento.
O montante será usado não apenas para lançar novos modelos. O trabalho de localização de novas tecnologias também está no orçamento, o que inclui a negociação com fornecedores.
Outra ação de diversificação mercado que chamou atenção foi a aquisição do grupo de manutenção automotiva DPaschoal. “O investimento atende o objetivo de ampliar a oportunidade de negócios para a montadora e sua rede de concessionárias e de distribuição de peças”, uma vez que, segundo Cappellano, a maior parte da manutenção de um carro mais antigo é feito pela cadeia de assistência independente. Logo, faz sentido investir nesse filão.